10 dicas de como colocar em movimento seu potencial criativo. A criatividade hoje não está sendo demandada apenas dos profissionais das áreas de criação e desenvolvimento, como marketing, comunicação, produtos e novos negócios. A criatividade também deve estar presente em finanças, produção, recursos humanos, logística, e contratos. A demanda por criatividade é, na verdade, a demanda por novos caminhos de crescimento econômico.
1 – Para ser mais criativo, preste atenção em como o ser humano funciona.
Nosso corpo produz pouca eletricidade, entre 10 e 100 milivolts. Para economizar energia, nosso cérebro está todo o tempo cortando tarefas, de memorização, e tomada de decisão. Por isso, tendemos à repetição dos comportamentos, o que acaba sendo um grande inimigo da criatividade. A inovação é feita de rupturas. Você precisa ensinar seu corpo a produzir as rupturas. Se quer ser mais criativo, precisa usar caminhos diferentes para chegar ao trabalho, formular os problemas em uma ordem diferente, provocar mudanças ao longo dos seus ciclos de execução, compor equipes com currículos diversificados, pensar soluções com colegas de outras áreas. Se você não conseguir modificar as sequências de suas ações, você não encontrará novas lógicas para a solução de problemas.
Rex Jung, neurocientista, fala aqui da relação entre criatividade e cérebro: https://www.youtube.com/watch?v=SWIXfNEDy3g
2 – Para ser mais criativo, dê chances para a improvisação.
Faça rabiscos. Cole recortes. Antes de colocar tudo em uma linda apresentação, use rascunhos. Desenhe, use canetas de cor, lápis de todos os tipos, carregue sempre um bloco de anotações. Evite a ditadura do papel adesivado, que não improvisa nada. Diversifique. Conecte uma coisa com outra.
Sabemos que a improvisação é muito comum na cultura das ruas. O nosso País é um grande laboratório para improvisações. E isso é muito útil para a vida no cotidiano. Mas, quando estamos dentro das empresas, a improvisação é mal vista. Infelizmente.
A criatividade precisa espaço, não vigiado, para acontecer. Muitas vezes, nós mesmos nos vigiamos, e não nos permitimos fazer “de qualquer jeito”. Para ser criativo, você deve perder os medos de "não fazer do jeito certo". Enquanto você não achou uma resposta, não há "jeito certo". Tente um novo caminho. Mesmo que tenha que voltar depois. Se você não tentar, nunca poderá saber se aquele caminho seria bom, ou não. Se você exercitar a improvisação, você aprenderá a reconhecer os fluxos, aprenderá a reconhecer quando algo novo, consistente, está prestes a se formar.
Como o jazz movimenta o cérebro do músico: http://www.bbc.co.uk/education/clips/zk8b9j6
3 – Para ser mais criativo, você deve ter as condições para fazer coisas com atenção.
Nossa consciência é um sistema muito complexo. Há coisas que estamos vivendo agora, que somente terão sentido daqui a algum tempo. Quando dormimos, mudamos o estado de consciência, e as coisas que estão na nossa cabeça são pensadas em outra lógica, durante os sonhos.
As palavras que usamos contêm muitos sentidos. E, muitas vezes, estamos usando uma palavra com um sentido claro, para nós, mas que para outras pessoas podem ser ouvidas com um sentido muito diferente. Isso significa que as respostas que procuramos para um problema podem estar dentro de nós, só que não conseguimos enxergá-las, não conseguimos dar atenção a elas. Precisamos tirar do nosso caminho as distrações, precisamos pensar muito bem sobre nossos sonhos, e conversar em profundidade com as outras pessoas acerca dos significados das coisas que estamos fazendo em equipe.
Quando conseguimos nos concentrar, mesmo que não seja no nosso problema específico, permitimos que o cérebro trabalhe com grande eficiência. Tenha hábitos de concentração, como leitura, diálogos concentrados no seu interlocutor, ou mesmo, na visualização concentrada dos detalhes de uma imagem, um quadro, um desenho.
Só é possível dar atenção ao que está acontecendo se tivermos o tempo adequado para isso. Se for para lidar com um problema específico, tente sair da sua sala de trabalho, dê uma volta. Dessa forma, você poderá ser mais criativo, pois conseguirá se concentrar com profundidade no seu problema. Muitas respostas são encontradas durante uma caminhada solitária.
Darwin chegou à ideia da evolução das espécies, lendo despretensiosamente um livro de Malthus. Newton teve o "insight" da relação entre as massas, quando uma maçã teria caído da árvore sob a qual estava sentado, descansando. Arquimedes chegou ao princípio da hidrostática enquanto tomava um banho sossegado em sua banheira (“Eureca!”).
4 – Para ser mais criativo, não desperdice suas falhas.
Nas situações em que você falha, provavelmente se trata apenas da sua mente, que está se esforçando para abrir novos caminhos. Ela tem as razões dela, e o seu cérebro pode estar trabalhando a serviço desses objetivos, dos quais você ainda não está consciente. Observe seus erros com atenção, pois eles podem ser a chave para encontrar um novo caminho. Freud teve um grande insight com os estudos de Giovanni Morelli sobre a autenticidade das obras de grandes pintores. A ideia central é que as partes dos quadros que mais bem expressam a autenticidade do autor são as figuras secundárias, como as orelhas e as mãos, pois quando as pinta o artista é menos rigoroso com a técnica. Quando há menos rigor, vêm para a superfície o verdadeiro estilo do artista.
Texto de Ginzborg sobre os métodos de Morelli, Freud e Sherlok Holmes: http://www.jstor.org/stable/4288283?seq=1#page_scan_tab_contents
5 – Para ser mais criativo, não fique o tempo todo pensando no seu problema.
Você é um organismo vivo. Se estiver repetindo uma ação indefinidamente, seu corpo tenderá à fadiga. Por isso, para ser mais criativo, permita que o seu dia a dia seja ocupado também com coisas muito simples, como andar de bicicleta, cozinhar, ou cuidar do jardim. Nessas atividades simples, o seu sistema nervoso permite que a eletricidade flua melhor. Ou seja, um grande número de conexões são feitas, e isso ajudará a encontrar uma solução criativa para o seu problema. Da mesma forma, se você ficar exposto a uma maior variedade de estímulos sensoriais, estará exercitando o sistema nervoso. Sinta mais cheiros, pise descalço em superfícies diferentes, ouça novos sons, admire novas imagens, conviva com pessoas diferentes, converse sobre novos assuntos. A criatividade depende de um tecido nervoso bem exercitado.
O stress, ao contrário, poderá, até mesmo, reduzir o tamanho do nosso cérebro.
A aula de Madhumita Murgia: https://www.youtube.com/watch?v=WuyPuH9ojCE
6 – Para ser mais criativo, trabalhe com menos.
A abundância é inimiga da criatividade. Você terá dificuldades para achar soluções inovadoras, se contar com muitos recursos. Países emergentes são mais surpreendentes nas soluções que encontram. Períodos históricos de escassez são também muito ricos em novas ideias. Pratique atividades onde a escassez é condição necessária, como acampar nas montanhas, ou organizar uma peça de teatro com as crianças. Recupere os detalhes das soluções já encontradas por sua equipe em outras situações, onde houve restrição de recursos – ou, ainda, estude as soluções encontradas por outras pessoas, em situações com menos recursos que a sua.
Ravi Metha, da Universidade de Illinois, comprovou esta relação em um brilhante estudo de Ciências da Administração: http://jcr.oxfordjournals.org/content/early/2015/10/01/jcr.ucv051
7 – Para ser mais criativo, vá fundo na análise das questões.
Não tenha medo de perguntar os porquês. Envolva-se com os labirintos das respostas. Isso vai exercitar sua mente para chegar às camadas mais profundas dos problemas. Assim você exercita sua mente, e permite que você faça deslocamentos nas camadas mais profundas da construção das ideias.
Temos grande dificuldade de fazer perguntas que abram novas possibilidades. A razão mais frequente é o nosso temor em lidar com paradoxos. Fazemos perguntas somente se tiverem um sentido. Ou seja, jogamos fora inúmeras perguntas que não fazem sentido. Para ser mais criativo, é preciso se abrir para os paradoxos. Ame-os. Eles acabarão levando seu pensamento para outros níveis de compreensão de um problema.
Alan Duffy, sobre as perguntas paradoxais: https://www.youtube.com/watch?v=C5P4Yc-GiU8
8 – Para ser mais criativo, melhore sua alimentação.
A alimentação tem relação direta com nossa capacidade de pensar. Novas pesquisas estão confirmando isso. Pesquisas de universidades brasileiras em conjunto com centros de pesquisa internacionais encontraram um efeito direto de uma substância encontrada em temperos, a “apigenina”, que melhora as conexões entre os neurônios. Em outro artigo, publicado este ano pelo centro de Biologia da Universidade de Cambridge, pode ser comprovada também a relação direta do que estamos comendo com a evolução da nossa programação genética.
http://www.regenerativebiology.net/index.php/arb/article/view/29244
http://www.nature.com/articles/nmicrobiol201530
9 – Para ser mais criativo, saia da moda.
Toda vez que uma determinada forma de pensar está disseminada, ela perdeu o seu vigor criativo. As inovações da sociedade têm uma origem criativa, partem de novas propostas, de novos caminhos. Porém, quando a inovação está sendo adotada em massa, ela se esvazia do seu conteúdo inovador. É por isso que se formam os ciclos, pois uma inovação amadurece, e depois é substituída por outra inovação. Ou seja, se você quer ser criativo, precisa se aproximar das atividades de inovar, de produzir coisas novas. Se você concentrar suas ações na outra ponta, onde as coisas são simplesmente adotadas, usando e reproduzindo o que foi inventado, aí estará se afastando das fontes criativas.
Monitorar tendências pode ser estratégico para lançar um produto de consumo massificado. Mas adotar, você mesmo, uma tendência não fará com que você seja mais criativo. Se todo mundo é futurista, o futurismo estará levando todos a um lugar de baixa criatividade. Se todo mundo se enquadrar na moda, estaremos todos nos afastando da origem criativa.
A maior pesquisadora de tendências de moda de todos os tempos concluiu que o sistema da moda ficou tão intoxicado, que já não cumpre mais o seu papel. Para ela, tudo o que vemos na indústria da moda são paródias de coisas que já foram feitas antes. Procure um espaço próprio, onde seu modo de viver seja difícil de ser contaminado. Encontre o seu próprio estilo, sua própria forma de estar no mundo. “As outras opções já estão todas ocupadas” (Oscar Wilde).
Li Edelkoort, sobre o fim da moda: http://www.dezeen.com/2015/03/01/li-edelkoort-end-of-fashion-as-we-know-it-design-indaba-2015/
10 – Para ser mais criativo, você deve escolher um ambiente em que as lideranças considerem criatividade fundamental.
Se você deseja ser mais criativo, faça o possível para que a criatividade seja entendida pelo seu valor estratégico, nos mais altos níveis da empresa. Compartilhe artigos entre colegas, estude casos bem sucedidos, valorize os movimentos criativos que já estão ocorrendo em seu ambiente – dentro da empresa, ou no seu mercado. Porém, se concluir que a empresa onde trabalha não está preparada para a criatividade, procure outra. Você não será criativo onde a criatividade não é considerada um valor.
Textos: Martin Haag (sócio-diretor da City, empresa especializada em pesquisas de mercado para orientação estratégica)
Imagens: www.pexels.com