Fragmentos de uma cidade invisível

  • Cultura
  • 08/02/2018 - 11:04
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Esta exposição se apresenta enquanto etapa última do projeto de investigação proposto, em continuidade a duas outras mostras coletivas realizadas em 2017, no MARGS e MACRS: MÚLTIPLOS OLHARES: 21 FOTÓGRAFOS e PROJETO DE PESQUISA EM FOTOGRAFIA CONTEMPORÂNEA - ambas estruturadas a partir de dois elementos distintos, porém complementares: a cidade e seus habitantes. FRAGMENTOS DE UMA CIDADE INVISÍVEL tem por objeto a relação entre os habitantes e o ambiente urbano, na consolidação da ideia de lugar. E, a partir de fragmentos de diversos ambientes citadinos, é proposto a construção coletiva de um lugar fictício, para a qual foram convidados os seguintes fotógrafos: Manoel Petry, Flávio Wild, Lucca Curtolo, Douglas Fischer, Carlinhos Rodrigues, Iara Tonidandel, Paulo Mello, Karla Santos, Fernando Pires, Fernando Kokubun, Alexandre Eckert, Tárlis Schneider, Ivana Werner, Rafael Karam, Nattan Carvalho, Adela Bálsamo Armando, Juliana Cupini, Lizandra Caon, Luciane Pires Ferreira, Heloisa da Costa Medeiros, Gutemberg Ostemberg, Maris Strege, Leonardo Kerkhoven, Guto Monteiro.

Mosaico formal, cuja a manufatura lhe é intrínseca, surgido a partir do processo de sedentarização e instrumento fundamental de permanência, bem como resguardo do território, a cidade - palco da vida coletiva, embora se pretenda controladora e rígida quanto a sua capacidade de organizar, acaba por prever a vida, porém sem jamais a restringir. E, embora se permita a múltiplas leituras enquanto registro histórico e memória edificada, a cidade é configurada considerando um comportamento amplo, coletivo, que contribui para a inconstância da paisagem urbana, dos espaços urbanos e, portanto, dos lugares. Quanto a este aspecto relevante da cidade enquanto construção coletiva, relato de uma época e referência histórica, eis o pensamento de Raquel Rolnik:

"O desenho das ruas e das casas, das praças e dos templos além de conter a experiência daqueles que os construíram, denota o seu mundo. É por isso que as formas e tipologias arquitetônicas, desde quando se definiram enquanto habitat permanente, podem ser lidas e decifradas, como se lê e decifra um texto."

pg.17. O que é cidade - Raquel Rolnik
Porém, segundo um conceito de lugar (usualmente empregado na arquitetura), os espaços se tornam lugares a medida que os definimos e os atribuímos significados, ou seja, adquirem este sentido segundo o tempo que dispendemos em os conhecer, em os vivenciarmos e, consequentemente, assim os dotarmos de valor. Nesta última etapa deste projeto de investigação, eis um questionamento que se faz oportuno: um fragmento de lugar pode refletir (ou comunicar) satisfatoriamente o todo a que pertence? Em analogia, no que se refere ao aspecto do fechamento da paisagem num fragmento de si mesma, eis o pensamento de Anne Cauquelin:

"Trata-se simplesmente de uma questão de definir, de delimitar um
fragmento com valência de totalidade, sabendo que só o fragmento dará
conta do que é implicitamente visado: a natureza em seu conjunto."
pg.138. A invenção da paisagem - Anne Cauquelin
Esta investigação sobre a relação entre a cidade e seus habitantes, não se supõe conclusa, tampouco assim se pretende, porém apenas disponibiliza, a partir do recorte da produção de profissionais com diferentes formações, algumas questões pertinentes às possibilidades de apropriação e concepção no âmbito da fotografia. Assim, é proposta a construção de outra realidade urbana - ampla em significados, em concordância ao sentido de lugar e segundo os fragmentos de diversos cotidianos citadinos e de suas paisagens, instrumentos imprescindíveis na composição desta cidade fictícia que, por um breve período de tempo, se faz visível.

Porto Alegre, fevereiro de 2018.
Fábio André Rheinheimer - Arquiteto, Artista Visual e Curador independente.

Referência:
ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2004.
CAUQUELIN, Anne. A invenção da paisagem. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda. 2007.

Divulgação: Fábio André Rheinheimer