Por Adriana Calabró
UM BREVE RELATO DO QUE ACONTECEU EM PARATY DURANTE OS CINCO DIAS DA FLIP, O EVENTO LITERÁRIO MAIS CELEBRADO DO ANO.
Para quem gosta de literatura, a Festa Literária Internacional de Paraty é um verdadeiro parque de diversões. As opções são muitas, a começar pela programação oficial, passando pelas casas parceiras, chegando às inúmeras manifestações espontâneas de arte e cultura espalhadas pelas praças e ruas. Fica até difícil escolher o que fazer. E por falar em ruas, Paraty, com sua arquitetura colonial e pedras irregulares, exige que a parada para ver a paisagem seja sem pressa. O que não falta é gente caminhando devagar, encontrando amigos (e livros) interessantes, descobrindo lojinhas, restaurantes e bares. Ainda mais neste ano, que o clima ajudou bastante com dias frescos e ensolarados.
O homenageado da vez, Paulo Leminski, reforçou a vocação poética do evento. A começar pela abertura de Arnaldo Antunes, que leu, cantou e mostrou a inspiração do poeta curitibano em sua obra. No dia seguinte, começaram as mesas, que contemplaram os mais diversos estilos: a poesia de Fabricio Corsaletti, Mar Becker, Sergio Vaz e Alice Ruiz, a prosa de Sandro Veronesi, Gaël Faye e Rosa Montero, o ensaio de Nei Lopes, os quadrinhos de Liv Strömquist, só para mencionar alguns exemplos. Vale a pena assistir tudo no YouTube, onde estão disponibilizados os conteúdos, incluindo as falas de Marina Silva e Gregório Duvivier que levaram uma pequena multidão à praça, onde era possível ver tudo o que acontecia no auditório pelo telão.
E não para por aí. Além de uma profusão de autores independentes, que tinham espaço garantido em casas parceiras, como a Gueto, havia uma robusta programação paralela. Destaque para a Casa Folha, que contou com a presença de Ruy Castro, Tati Bernardi e Vera Iaconelli e para a Esquina Netflix Piauí que recebeu Ana Maria Gonçalves, a mais nova membra da Academia Brasileira de Letras, e Valter Hugo Mãe em duas conversas: com Pedro Pacífico, o Bookster, e com a equipe que adaptou seu livro, O Filho de mil homens, para as telas.
Mãe também ocupou auditório principal do evento, falando não só de livros, mas de passagens de sua vida pessoal. A espontaneidade do escritor arrancou gargalhadas. Incluindo as piadas com Rodrigo Santoro, protagonista do filme.
Outros trunfos de Paraty, como a gastronomia, sempre ganham palco durante o famoso evento literário e dessa vez não foi diferente. Isso engloba prazeres simples, como os carrinhos de doce espalhados pela cidade; achados históricos, como a padaria Esperança, que tem 125 anos, e também restaurantes renomados que se esmeram na releitura da culinária caiçara, oferecendo uma verdadeira experiência para os sentidos. É o caso do Refúgio, posicionado em um local estratégico, em frente ao mar e numa parte da cidade em que não há tanto burburinho. Na decoração, as obras de arte estão posicionadas nas diversas salas e trazem formas, cores e volumes ao ambiente. O atendimento é atencioso e ágil e o menu revela entradas saborosas como o Carpaccio de Polvo e pratos principais muito bem executados como o delicioso Robalo com Paçoca de Banana. Detalhe: a casa valoriza a pesca artesanal, o que incentiva a economia da região e garante o frescor e qualidade dos produtos. Entre as sobremesas, a Pera Santa Klaus é uma excelente pedida. A carta de vinhos apresenta boas opções de harmonização e, cá entre nós, estando na Flip, o que não faltam são motivos para brindar.
Entre os habitués do evento, já em sua 23ª edição, há uma prática comum na hora da despedida: mencionar a vontade de já reservar a hospedagem para o ano seguinte. Não é para menos. A sensação é de que Paraty se torna um verdadeiro oásis para leitores, escritores, editores ou simplesmente para quem gosta de conhecer mais sobre a cena literária contemporânea em uma das cidades mais simpáticas e fotogênicas do litoral brasileiro.
Sim, no ano que vem, estaremos lá de novo!