CARTA ABERTA — Expedição Cacau e Chocolate do Brasil

Samba, milonga, axé, xaxado, forró, maracatu, carimbó, chamamé, vaneirão, xote... Ritmos não disputam território — coexistem, ecoam, completam nosso sentir sobre o Brasil. Escuto-os permanentemente ao percorrer aeroportos, fazendas, eventos, fábricas, feiras e muitos outros destinos da minha Expedição pelo país. Inclusive, criei uma trilha sonora da Expedição no Spotify (link ao final deste texto).

Vejo o Brasil também nas cores, nas festividades, nos sotaques, nas expressões artísticas, nos frutos e nos sabores de cada bioma que conheço — ou ainda sonho em conhecer. São esses elementos que me guiam como bússola por este território múltiplo, que sigo redescobrindo a cada etapa da Expedição Cacau e Chocolate do Brasil.

Escrevo esta carta para partilhar o que acredito com quem se dispõe a escutar com profundidade e claro, para convidar a acompanharem meu trabalho em diversos canais.

As Conexões

Acolho com reverência palavras ditas em temperaturas e temperos diferentes dos meus — não apenas por respeito, mas porque me ensinam a compreender, com profundidade, o meu país. Se meu sotaque gaúcho me faz pertencer a um pedaço do Brasil, meu compromisso me faz pertencer ao Brasil por inteiro. Tenho sede de saber, fome de escutar, coragem para criar e humildade para compartilhar o que aprendo sobre nossas múltiplas brasilidades.

Quando alguém se senta para ouvir, temos algo a trocar. Quando alguém se levanta e parte, também. Até o silêncio ensina. Há beleza em cada gesto: no aproximar de uma cadeira à mesa, no olhar que se abre, no som espontâneo de surpresa ao provar algo novo. É por essas frestas que crio experiências que não apenas se sentem — transformam. Não prometo agradar. Prometo provocar, tocar, abrir caminhos. Se, ao final, alguém sair diferente, mais consciente ou simplesmente mais sorridente, então entreguei o que vim entregar.

O rumo

A Expedição Cacau e Chocolate do Brasil não é um passeio. Não é um roteiro turístico. Não é carrossel de fotos em redes sociais. É uma construção meticulosa de pontes — sensoriais, narrativas, produtivas. Nasce da escuta ativa, da observação rigorosa, da prática estratégica. É uma travessia que só pode ser feita por quem respeita os territórios.

Com mais de 25 anos de atuação em consultoria técnica, desenhei a Expedição a partir da inquietude de aprender — e com ela criei uma proposta autoral, com identidade e propósito. Sou gaúcha de Pelotas, com orgulho. E isso não me faz amar menos o Brasil. Pelo contrário: atravesso o país com escuta atenta, silêncio respeitoso e fala fundamentada. Não falo sobre o Brasil. Falo com o Brasil. É um diálogo com as pessoas que produzem, que vivem, que preservam, que me ensinam.

Tenho profundo respeito por todos os territórios onde chego. Aliás, não apenas chego — me conecto. Converso com quem tem história, escuto quem planta, reverencio quem veio antes. Reconheço o valor da escuta, do encontro e da troca.

A bagagem

Trago uma ferramenta importante, a prática consolidada do ensino: são mais de oito anos ministrando aulas para graduação e pós-graduação em uma instituição de ensino superior, dois anos como docente em uma escola técnica e em 27 anos de carreira, milhares de horas em treinamentos técnicos em empresas e equipes em todo o Brasil. Estudo profundamente o que desejo compartilhar. E compartilho com método, base e consciência de que ensinar é, antes de tudo, escutar. Ofereço caminhos que encontrei. Compartilho o que vi, li, estudei e senti.

Por dez anos, atuei como consultora de desenvolvimento de projetos pelo Sebrae RS. Foi ali que experimentei o sabor de reconhecer alimentos como patrimônio histórico, cultural e econômico de um território — e aprendi a tratar como protagonistas as pessoas que fazem essa roda girar. Essa vivência me ensinou que cada ingrediente carrega não apenas sabor, mas pertencimento, trabalho, resistência e inovação.

Os eventos da Expedição não são degustações. São encontros. Com o país, com os sentidos, com a complexidade do que é ser brasileiro. Não comercializo chocolate. Curadoria não é venda — é responsabilidade para orientar a escolha. Conecto produtos à cultura. Faço isso por meio de experiências que não estão nos manuais, mas no olhar que brilha, na memória que desperta, na emoção que surpreende.

A Expedição é ação viva, um projeto orgânico. É curadoria com alma. Visito regiões produtoras com um olhar técnico e sensível. Estudo famílias, modos de trabalhar, falar, viver, cultivar, transformar. Escuto histórias, observo rituais, provo narrativas. E compartilho tudo isso com rigor, emoção e responsabilidade.

Não sou influencer. Sou uma mulher brasileira que dedica décadas à pesquisa, à prática, ao estudo das cadeias produtivas. Organizei meu método de análise de elementos narrativos após uma longa jornada de imersão em estudar as premiações internacionais, entrevistas, estudos de marca, escuta de produtores, mapeamento de tendências e experiências reais em campo.

Falo com método. Trabalho com propósito. Sou técnica e sensível. Estratégica e sensorial. Não estou aqui para confirmar certezas — estou aqui para provocá-las e quem sabe, expandi-las. E sei que informação bem fundamentada, quando entregue com verdade, pode não agradar — mas pode impactar, transformar, quebrar paradigmas e mudar perspectivas.


As sensações

Falo, por exemplo, sobre o amargor — e não apenas o do chocolate. O chocolate, quando preparado com cacau fino cuidadosamente beneficiado, não é amargo. O amargor está no conjunto de defeitos sensoriais do cacau, estudado por pesquisadores que admiro. Mas há também o amargor da vida — e esse, sim, pode cegar. O que não cabe neste projeto é o azedume das relações ou ainda a indelicadeza travestida de opinião. E, quando isso ocorre, escolho não responder com a mesma acidez — outro defeito sensorial do cacau, quando em excesso. Escolho seguir. Prefiro continuar operando no lado luminoso das conexões.

Me realizo quando vejo olhos se fecharem ao provar um chocolate brasileiro e se abrirem, em seguida, com um sorriso genuíno. Quando ouço um som espontâneo de prazer. Quando alguém diz: “Eu não sabia que o Brasil tinha chocolates assim...”. É para esse público que falo. Para os que desejam descobrir — e não defender fronteiras. Para os que se movem e reconhecem a pluralidade do universo do cacau ao chocolate.

Meu mapa do Brasil, aquele que uso nos materiais da Expedição, foi inspirado nas texturas e cores das cascas do cacau, fotografadas em dezenas de visitas minhas a fazendas. Ele carrega, em suas linhas, a complexidade de um país que não cabe em rótulos. Traduz a riqueza de movimentos, identidades e ligações invisíveis que formam a alma produtiva deste Brasil.

Admiro artistas e pensadores brasileiros que, como eu, transitam entre saberes e territórios com respeito, profundidade e beleza — como os que cantam o Brasil com alma ou escrevem com maestria. São referências que me inspiram a continuar contando, com dignidade, o que vejo florescer nos rincões do país.

Eis o que sustenta esta Expedição:
• Vivenciar e estudar profundamente o que apresento
• Respeitar, valorizar e aprender com quem faz o Brasil acontecer
• Inspirar marcas, territórios e pessoas a enxergarem seu próprio valor
• Traduzir o país em linguagem sensorial, estratégica e cultural
• Conectar cadeias produtivas com propósito e excelência
• Conduzir com base técnica simultânea à alma e sutilezas
• Impactar, provocar reflexão e quebra de paradigmas

Porque o Brasil precisa se ver. Precisa se saborear. Precisa se respeitar. Porque o cacau e o chocolate brasileiros são mais do que commodities — são cultura, memória, identidade e potência.

Antes de finalizar esta carta aberta, meu agradecimento aos apoiadores, que de alguma forma estiveram comigo até o momento, seja com apoio financeiro, chocolates, compartilhamento de meu conteúdo, passagens áreas, hospedagem, e claro com sua amizade.

E sem dúvidas, agradecer a cada um que veio aos meus eventos e experiências com energia disponível e prontos para esta conexão com o universo do Cacau e do Chocolate do Brasil. Obrigada!

Sigo na minha caminhada, porque contar histórias com chocolate é também transformar a forma como as pessoas sentem, pensam e escolhem, e esta é minha escolha. Desejo que a leitura desta carta convide você a amplificar este meu objetivo de fortalecer conexões e estar comigo neste diálogo.

Esta é minha Expedição.


Juliana Recuero Ustra
Julho, 2025.

Para eventos, mentorias e parcerias: chocolate@ustra.com.br
Siga: @chocolatenobrasil
Ouça a playlist da Expedição no Spotify: Playlist Expedição Cacau e Chocolate do Brasil

Por Juliana Recuero Ustra
Engenheira química, pesquisadora, consultora e idealizadora da Expedição Cacau e Chocolate do Brasil


Fotos Divulgação Chocolate no Brasil