Lu Gaudenzi inaugura 'Caminhos Viscerais' no Museu de Arte do Paço no dia 14 de março

  • Cultura
  • 20/02/2025 - 09:05
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Mostra apresenta a primeira exposição individual da artista abordando as relações entre corpo, movimento e pintura

A artista visual Lu Gaudenzi apresenta sua primeira exposição individual, “Caminhos Viscerais”, no Museu de Arte do Paço, em Porto Alegre. Com curadoria de Ana Zavadil, a mostra será inaugurada no dia 14 de março próximo, às 18h30min, e poderá ser visitada até 24 de abril (detalhes no “Serviço”).



A exposição reúne cerca de uma centena de obras que investigam a relação entre pintura e dança, materializando gestos, fluxos e intensidades pictóricas em um processo de profunda experimentação e entrega. A exposição apresenta uma seleção de obras que retratam fluxos, traços e marcas deixadas pelo corpo na tela, explorando diferentes técnicas e densidades pictóricas. Utilizando tintas diluídas, pigmentos naturais e gestos amplos, a artista constrói superfícies dinâmicas, onde o acaso e o controle coexistem em um jogo de camadas e intensidades.



A trajetória de Lu Gaudenzi é marcada pelo encontro entre artes visuais e dança, um cruzamento que se reflete diretamente em sua produção artística. Com 11 anos de prática no Ballet Clássico, a artista desenvolveu uma percepção aguçada sobre o corpo e suas potencialidades expressivas, trazendo essa experiência para o campo da pintura. Seus trabalhos trazem vestígios do movimento, da ação e da entrega do corpo ao fazer artístico, estabelecendo um território de investigação em que gestos, materiais e superfícies dialogam de maneira intuitiva. “Minha pesquisa surge da necessidade de sentir e expressar. Sempre tive uma relação intensa com o movimento e a fisicalidade. A dança me ensinou a lidar com o corpo como um instrumento de comunicação, algo que se expandiu naturalmente para a pintura”, afirma a artista.



Segundo Ana Zavadil, Lu Gaudenzi possui uma estética própria, uma “filosofia de si”. “Ela reinventa novos significados para a linha, o plano e a cor. Como sua obra é abstrata, os signos formais são potencialmente dotados de significados e os elementos pictóricos causam encontros na superfície na qual os gestos soltos dão origem a linhas fortes que se justapõem e se entrelaçam, misturando as cores e os sentimentos”, analisa.



“Caminhos Viscerais” se divide em três séries com trabalhos em grandes dimensões. A primeira, “Entre o céu e a terra”, retrata o início de sua trajetória. Traz questionamentos sobre o lugar de cada coisa no mundo, do “lugar da alma”. A segunda série, “Digitais do tempo”, é composta por 13 trabalhos, nos quais Gaudenzi explora a intensidade do próprio processo. A conexão entre emoções e o corpo, movimento, liberdade e suporte, envolvem-se em uma entrega mútua em meio ao paradoxo. “O caminhar sobre o suporte se torna vestígio das bagagens que carregam nossos passos”, argumenta. Na série, “Um voo entre o tudo e o nada” apresenta 100 assadeiras de alumínio em diversos tamanhos nas técnicas nanquim, acrílica e pigmentos naturais diluídos em água, onde a artista banha os pés e faz as diluições.



A poética do movimento

Desde que migrou da dança para a pintura, Lu Gaudenzi vem desenvolvendo um processo artístico no qual o corpo se torna agente criador e suporte conceitual. Para a artista, a pintura não é apenas um registro visual, mas uma extensão da fisicalidade e da intuição. "Eu me permito ser e sentir. Minha pintura é um espaço de liberdade, onde o gesto é o que define a obra. Assim como na dança, há um jogo entre controle e improviso. Me jogo na criação quase literalmente, como fazia no balé", explica.



As telas exibidas na mostra revelam esse processo de entrega corporal e liberdade expressiva. A ação da artista sobre o suporte vai além do pincel: gotejamentos, respingos e marcas de mãos e pés fazem parte da composição, transformando a superfície em um campo de ação. "Eu trabalho com camadas sobrepostas, diluições e contrastes. A tinta se espalha pelo espaço da tela como um corpo que dança, criando trajetórias imprevisíveis. Cada marca é um reflexo do movimento", assinala.



Sobre seu método, Ana Zavadil comenta: “Em sua obra, o corpo não é apenas um instrumento para criar, mas é parte integrante de cada criação. Ao caminhar sobre a tela com tinta nos pés descalços, ela não está apenas criando uma forma de expressão que se afasta da rigidez técnica, e sim uma carga emotiva e sensorial, gerada pela liberdade de movimento e pela imprevisibilidade do gesto, originando uma obra que é a extensão da emoção do movimento, em vez de uma construção controlada”.



A artista também experimenta com materiais variados, ampliando a dimensão sensorial das obras. A interseção entre densidade e fluidez, presença e ausência, preenchimento e vazio está presente em cada composição, criando atmosferas visuais que transitam entre o concreto e o efêmero.



Memória pictórica

Outro aspecto central na pesquisa de Lu Gaudenzi é a relação entre tempo e espaço na pintura. Para a artista, cada obra carrega uma narrativa própria, instaurando um diálogo entre passado, presente e futuro. "A pintura tem uma temporalidade própria. Quando penso no meu trabalho, percebo que ele é atravessado pelo tempo. Cada camada de tinta, cada traço sobreposto, cada escorrimento carrega algo do instante em que foi criado. O tempo se inscreve na matéria", reflete.



Essa relação com o tempo também se manifesta na maneira como a artista vê a construção da memória. A pintura se torna um arquivo de gestos e emoções, um território de registros visuais que dialogam com a experiência do espectador. "A ideia de presença e ausência é algo que sempre me interessou. O que permanece na tela é o que ficou do gesto, do toque, do movimento. Mas há, também, aquilo que se dissolve, que desaparece com o tempo. Meu trabalho existe nesse equilíbrio entre permanência e transformação", pontua.



Ao explorar esse conceito, Lu Gaudenzi questiona as fronteiras entre representação e abstração, criando composições que desafiam a percepção e convidam o público a interagir com as obras de maneira sensorial. "Meu desejo é que o espectador se permita sentir a pintura, que veja nela um reflexo do próprio corpo, do próprio tempo. A arte tem esse poder de criar conexões invisíveis, de nos transportar para um outro espaço", observa. “Um voo entre o tudo e o nada, é vestígio da entrega e do processo. O suporte, onde banho os pés e faço as diluições e que em primeiro momento não tinha pretensão de ‘ser’, abriga, o registro da temporalidade de cada trabalho”, conclui.



Trajetória

Desde 2018, Lu Gaudenzi tem aprofundado sua pesquisa no campo das artes visuais, frequentando cursos livres e desenvolvendo uma produção que transita entre pintura, instalação e experimentação gráfica. Em 2024, foi vencedora, em grupo, do Edital Projeto Emergencial do Espaço Força e Luz/EFL Cultural-RS, consolidando-se como uma das vozes emergentes da arte contemporânea no sul do País. A exposição "Caminhos Viscerais" representa um marco em sua trajetória, consolidando sua pesquisa artística e oferecendo ao público um mergulho em sua poética visual.



Sobre Lu Gaudenzi

Lu Gaudenzi, Porto Alegre/RS, 1976. Reside e trabalha em Porto Alegre. Onze anos de prática de Ballet Clássico despertaram sua pesquisa poética sobre as relações entre a dança e as artes visuais, com enfoque nos territórios do corpo e da pintura, bem como nas margens que contornam ou delimitam aspectos físicos e simbólicos desse encontro intersticial, com materiais e gestos que expressam diferentes densidades e fluxos. Desde 2018, frequentou cursos livres de formação artística que tratam de abordagens práticas e teóricas com Carlos Wladimirsky, Bea Balen Susin, Sérgio Fingerman, Ana Zavadil, Theo Felizzola, Lou Borghetti, Paulo Amaral, André Venzon e Oscar D’Ambrosio.

SERVIÇO:

O Quê: "Caminhos Viscerais", exposição de Lu Gaudenzi
Curadoria: Ana Zavadil
Quando: Abertura dia 14 de março próximo, às 18h30min. Visitação até 24 de abril de 2025
Onde: Museu de Arte do Paço, Praça Montevideo, 10, Centro Histórico, Porto Alegre-RS
Horários: De segunda a sexta-feira, das 09h às 17h
Entrada: Gratuita
Classificação etária: Livre


Assessoria de Imprensa: Silvia Abreu

Fotos F.Zago/StudioZ