Marcelo Zanini, médico de formação, iniciou na pintura abstrata durante a década de 90. Autodidata, aprimorou sua obra na convivência com os professores Gessy Geyer e Antônio Augusto Frantz. Há alguns anos, para Zanini, a arte de pintar tornou-se uma atividade corrente. Em seu vasto atelier no coração do bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, o artista produz seus trabalhos de maneira intensa e diária. Participou de exposições individuais e coletivas, nacionais e internacionais, integrando leilões de arte e é citado em publicações de jornais, assim como em revistas especializadas em arte.
Em suas viagens de trabalho e de lazer pelo mundo, nos últimos 20 anos, Zanini intensificou sua busca por referências do expressionismo abstrato, “arte pura”, com ênfase em escolas da Itália, da Alemanha e dos Estados Unidos. Seu estilo revela um pintor muito intuitivo, de pinceladas gestuais fortes, harmônicas e ricas em volume e cores.
Para o artista, o conhecimento de técnicas é primordial na produção de uma obra. No entanto, tão importante quanto a técnica é a criatividade. O processo criativo a partir da tela em branco está envolto por desafios e frustrações, mas também encontra seu êxtase ao desvendar os caminhos da criação na construção de ideias originais. Todo artista almeja estes momentos de realização que, entretanto, nem sempre ocorrem. Criatividade é se envolver profundamente com uma ideia que está conosco na hora de dormir, continua quando acordamos e permanece habitando nossa mente por muito tempo. Estas são as condições para a criatividade, um profundo comprometimento. “Ser criativo demanda muito investimento e energia”, comenta Zanini.
“Começo novas pinturas com um sentimento de combate e curiosidade, deixo a pintura indicar sua direção à medida que acrescento elementos e cores, muitas vezes resultando o inesperado. Algumas das melhores obras que criei surgiram da experimentação ousada e da renúncia a noções preconcebidas. É emocionante ver as diferentes formas e transparências ocorrendo à minha frente durante o processo pictórico. É claro que esta abordagem pode também ser um pouco assustadora; há sempre o risco de se destruir o que foi feito ou de se criar algo que não era o desejado; trata-se de um duelo constante em busca da superação perante a tela. Mas aprendi a abraçar esta incerteza, confiar no processo e ver onde ele terminará. Assim, na melhor das hipóteses, descobri que me acostumei com o desconforto de repetir e tentar novamente, e isto se traduz na experimentação: não pensar no desfecho, mas me concentrar no que precisa ser feito para alcançá-lo”.
TODA VEZ QUE O ARTISTA SE ENVOLVE DE MANEIRA VISCERAL, INTENSA, DE CORPO E ALMA EM SEU PROCESSO CRIATIVO, O PROJETO TEM TUDO PARA ATINGIR SUA MELHOR EXPRESSÃO. SER ARTISTA É CRIAR, É INTUIR.
“A inspiração no dia a dia depende muito do estado de espírito do artista, mas a persistência, a dedicação e a paixão devem ser uma constante para se atingir o propósito desejado. Segundo uma citação de Einstein, ‘a experiência mais bela disponível para nós é a do mistério. É a emoção fundamental que reside no cerne de toda arte e ciência’. Acreditar que o talento é um dom pode ser conveniente, um confortável pensar de forma passiva, mas na verdade é o trabalho que produz e alimenta a inspiração. Penso que somos inspirados quando estamos dispostos a criar um diálogo diário com o que fazemos. O artista deve ser exigente, possuir um pensamento crítico sobre sua obra e o desafio deve estar acima do que já foi feito.”
Para Zanini, toda criação deve permitir a desconstrução, o experimental; muitas vezes o desenvolvimento da obra apresenta-se de forma caótica, seguido de uma busca alucinante do controle final, como em um jogo ou numa disputa entre obra e criador.
Na contemporaneidade, para Cristina Freire, teórica e pesquisadora da USP, a crítica da arte se depara com o que ela chama de afasia, que significa a dificuldade de achar um termo para designar alguma coisa, a dificuldade de se expressar. É aquele momento em que olhamos para algo e as palavras fogem da boca, não se consegue denominar, falar sobre determinada obra, descrevê-la exatamente, e isto gera uma afasia. Ao mesmo tempo, há um deslumbramento, a captura pelos olhos do que se vê, e aí está o encanto ao admirarmos uma obra de arte.
Leonardo da Vinci escreveu em SENSAZIONE: “todo nosso conhecimento tem sua origem em nossas percepções”. Podemos somente expressar em palavras o que elas são capazes de dizer ou o que a linguagem pode comunicar. Pinturas não possuem o artifício simbólico das palavras. As pinturas são outra forma do pensar humano. Para o alemão Gerhard Richter, famoso por suas obras abstratas, o que lhe interessa em geral nas pinturas é aquilo que o instiga a entendê-las.
O artista e curador Paulo Amaral assim se expressou em recente crítica à obra de Zanini: “Marcelo Zanini logrou construir em sua arte um caminho assaz próprio, a plataforma que sustenta uma pintura vibrante e harmônica. Mas advirto que o abstracionismo é muitas vezes a escolha aparentemente mais cômoda, mas também a que termina por devorar as esperanças de êxito àqueles que por ele se aventuram em primeira viagem. Há um longo caminho até chegar-se a bons resultados nessa seara, ou pelo menos muitas tentativas e decepções. O abstracionismo é mais complexo do que se pensa, pois, desprovido de forma prontamente identificável, e pretendendo o afã de transmitir emoções ao espectador, poucas vezes o faz tão exitosamente como o figurativismo, capaz de docilmente, pela confissão explícita da forma, despertar o olhar do contemplativo espectador”.
Em 8 de setembro, ocorrerá a vernissage de sua próxima exposição individual internacional, na cidade de Cascais, Portugal. Em seguida, novembro, expõe na galeria Delphus Porto Alegre, ambas sob a curadoria de Paulo Amaral.
Foto Marcelo Zanini: Leonardo Kerkhoven
Fotos: Marcelo Zanini
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