A exposição ZORAVIA - a construção da poesia, fotografias de Gilberto Perin, celebra a atividade desta artista que, em 2016, completa 80 anos de vida. O fotógrafo Gilberto Perin fora testemunha ocular de diferentes etapas do fazer artístico durante um período em que, transpostas as formalidades meramente profissionais, desenvolveu-se uma relação de cumplicidade entre ambos, que se faz visível nesta exposição especialmente concebida para o Café do MARGS. Nesta série de fotos inéditas, com ênfase a partir do processo criativo de Zoravia Bettiol, os registros sugerem narrativas pretéritas e futuras - plenas de poesia, a serem construidas a partir da interação com o observador.
Enquanto registro - um fragmento do olhar subtraído de sua continuidade cronológica, a fotografia oportuniza outras releituras, isentas de amarras absolutas que, logo, de forma ampla e irrestrita, multiplicam-se em outros entendimentos, plenos de liberdade. Neste contexto, ao subtrair a atividade do tempo, eis o exercício do fotógrafo: organizar um inventário de ideias, de pessoas, de vivências... do mundo. Portanto, ordenar os registros da vida e do viver, a partir de revelações: imagens captadas que, mesmo condenadas à estagnação de um momento, eclodem numa profusão de novas apropriações simbólicas. Sob esta perspectiva, Susan Sontag salienta:
A força de uma foto reside em que ela mantém abertos para escrutínio instantes que o fluxo normal do tempo substitui imediatamente. O congelamento do tempo — a estase insolente, pungente, de toda foto — produziu novos cânones de beleza, mais inclusivos. Porém as verdades que podem ser transmitidas em um momento dissociado, por mais decisivas ou significantes que sejam, têm uma relação muito estreita com as necessidades de compreensão. (SONTAG, 1977, p.65)
Gilberto Perin, como lhe é peculiar, interage a partir da relação das pessoas e os seus próprios espaços cenográficos - contexto de atuação particular, pleno de objetos condutores de relatos e vivências íntimas e, assim, se estabelece uma relação de cumplicidade entre o artista e o fotografado. No decorrer deste processo usual, eis a trajetória deste profissional: reter múltiplas narrativas, mesmo que incertas, não absolutas, ou seja, plenas de anseios, dúvidas, discursos imprecisos a tangenciar reminiscências, códigos do viver e questões outras (pessoais e intransferíveis). Deste modo, conforme Susan Sontag:
Ao contrário do que é sugerido pela defesa humanista da fotografia, a capacidade que a câmera tem de transformar a realidade em algo belo decorre de sua relativa fraqueza como meio de comunicar a verdade. (SONTAG, 1977, p.65)
Em ZORAVIA - a construção da poesia, o mirar elegante de Gilberto Perin apenas sugere alguma sequencia pretérita, bem como sua possível continuidade futura, sem jamais as determinar com precisão. Nesta exposição, a partir de fragmentos da vivência artística de Zoravia Bettiol, em pleno exercício criativo, Gilberto Perin convida o observador a determinar (ou construir) as possíveis narrativas poéticas. Referência: SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. São Paulo: Ed. Schwarcz, 1977.
Porto Alegre, outubro de 2016.
Divulgação: Fábio André Rheinheimer - Arquiteto e Artista Visual, Curador do Café do MARGS.
Fotos: Gilberto Perin