Por José Alfredo Nahas
Nem sempre o maior valor das coisas está na superfície. É preciso tempo, vivência e diferentes perspectivas para enxergar todas as faces de um trabalho. É o caso do voluntariado. Provavelmente, nenhuma pessoa vê o trabalho voluntário de forma negativa. As pessoas reconhecem o valor que existe em alguém disponibilizar o seu tempo, conhecimento e afeto para o bem do outro sem pedir nada em troca.
No imaginário coletivo, contudo, o voluntariado surge muitas vezes como uma boa ação eventual e voltada a tarefas de baixa complexidade operacional. É o caso clássico de mutirões para pintar as paredes de uma escola, recolher o lixo após um evento ou fazer reparos técnicos em uma organização social. Não há nada de errado com as ações desse tipo. O problema está em retratá-las de forma caricatural, simplista e depois usá-las como representação universal do trabalho voluntário.
É desse percurso que nasce a ideia perigosa de que o trabalho voluntário é uma ação nobre, mas de baixo impacto e sem valor estratégico. Essa visão não é só equivocada: é injusta porque subvaloriza o esforço de milhares de organizações e de milhões de pessoas engajadas na causa. Por isso, duas distinções fundamentais se fazem necessárias. Primeiro, separar o voluntariado de ocasião do voluntariado organizado. Esse último é empreendido com metodologia, estratégia, comprometimento e visão de médio e longo prazo. Segundo, identificar a potência dos programas de trabalho voluntário não apenas como atividade fim, mas como atividade meio.
O voluntariado, quando entendido como meio, é uma estratégia poderosa para criar e disseminar conhecimento, articular redes de cooperação, estabelecer relações de qualidade entre diferentes atores, engajar os mais variados públicos e despertar o espírito cidadão e o empreendedorismo social nas pessoas. Reconhecer a complexidade do voluntariado e investir nas suas potencialidades é muito mais do que um aprendizado. É um ato de cidadania, em que todos ganham e ninguém perde.
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