Mostra inédita no Farol Santander Porto Alegre traz 63 pinturas, além de vídeos, documentário e livro inédito que resgatam 60 anos de trajetória do artista goiano. Diversas obras serão exibidas pela primeira vez nesta exposição. A última mostra de Siron Franco na capital gaúcha ocorreu há 22 anos.
De 16 de agosto (quarta-feira) a 22 de outubro (domingo) de 2023, o Farol Santander Porto Alegre recebe a exposição Siron Franco - Armadilha para Capturar Sonhos, que apresenta um conjunto de 63 pinturas em grandes formatos que percorre as seis décadas de produção do artista goiano, considerado um dos mais importantes e produtivos do país, reconhecido internacionalmente. Na ocasião, também será lançado o livro Siron Franco, editado pela Cosac Naify.
Com curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro, a mostra é composta por sete núcleos expositivos que agrupam as obras a partir dos temas Cosmos, Segredos, Mitos, Homem, Biomas, Violência e Césio. Cada núcleo apresenta também um breve vídeo com o próprio artista comentando cada um dos temas e seu processo de trabalho. Além das pinturas, a exposição exibe o documentário Siron. Tempo Sobre Tela (Brasil, 2019, 91 min), filme dirigido por André Guerreiro Lopes e Rodrigo Campos. Com foco no tempo que brota da interação de um arquivo pessoal inédito com novas filmagens, o documentário ilumina a personalidade inquieta e a mente criadora do artista, encadeando pensamentos e memórias em associações inusitadas e reveladoras.
“Para mim, será uma alegria ver essas obras todas juntas, reunidas em uma mesma mostra. Nesta seleção há um pouco da história recente do Brasil”, afirma Siron.
Muitas das obras que fazem parte da exposição serão mostradas pela primeira vez ao público, como A Grande Rede, pintura realizada em 2023. Elas fazem parte da coleção particular de arte contemporânea de Justo Werlang. Durante a exposição, será lançado o livro das obras de Siron Franco presentes na coleção, incluindo objetos, esculturas e pinturas, além de entrevistas e textos inéditos de Gabriel Pérez-Barreiro, Cauê Alves e Angel Calvo Ulloa. Com cerca de 250 páginas, a publicação da editora Cosac Naify tem coordenação editorial de Charles Cosac, Fabiana Werneck e Gabriel Pérez-Barreiro.
“Apresentar a exposição Armadilha para Capturar Sonhos é uma homenagem que o Farol Santander Porto Alegre presta ao artista plástico goiano Siron Franco. A mostra encanta por nos fazer navegar pelos vários mundos que o artista transita, tanto na figuração quanto na abstração, mas sempre com o propósito de chamar a atenção para temas importantes para refletirmos”, afirma Maitê Leite, Vice-presidente Executiva Institucional Santander Brasil.
A linguagem visual de Siron oscila entre a figuração (em que as imagens são apresentadas com clareza) e as abstrações (em que a pintura não representa objetos do mundo, mas cria uma impressão geral e uma energia). Suas pinturas são frequentemente constituídas de muitas camadas que se sobrepõem, escondidas pela camada mais superficial e visível aos olhos do espectador.
Pérez-Barreiro explica: “Desde a década de 1970, o trabalho de Siron tem abordado de forma sistemática quase todas as questões que são dominantes na arte brasileira e internacional dos dias de hoje: catástrofe ambiental, discriminação, violência, injustiça, corrupção, raça, gênero, classe e assim por diante. Mas, ao mesmo tempo, seu trabalho teimosamente não é sobre essas questões. Siron é um artista que constantemente confunde as expectativas”.
"Porto Alegre é, para mim, uma espécie de lugar onde eu nasci. Minha primeira exposição na cidade aconteceu em 1972, quando ainda era muito jovem. É um lugar onde tenho muitos amigos e colecionadores”, afirma Siron. Dessa forma, a exposição é também uma oportunidade para o público porto-alegrense revisitar a obra de Siron Franco que, há 22 anos, não tinha um conjunto tão representativo de seu trabalho apresentado no Rio Grande do Sul (a sua última individual aconteceu em 2001, no extinto Centro Cultural Aplub, com a série de objetos escultóricos intitulada Casulos). Em 1999, o artista ganhou uma retrospectiva no MARGS.
A mostra poderá ser conferida de terça a sábado, das 10h às 19h, e nos domingos e feriados, das 11h às 18h, com último acesso para visitação sempre uma hora antes de fechar o espaço. Os ingressos custam R$ 17 no valor inteiro e R$ 8,50 para quem tem direito a meia-entrada e podem ser adquiridos no site https://www.farolsantander.com.br/#/poa e no local (Rua Sete de Setembro, 1028).
SERVIÇO
Exposição Siron Franco - Armadilha para Capturar Sonhos
Artista: Siron Franco
Curadoria: Gabriel Pérez-Barreiro
Período de visitação: de 16 de agosto a 22 de outubro de 2023
Local: Farol Santander
Rua Sete de Setembro, 1028 - Centro Histórico - Porto Alegre – RS
Horário: Terça à sábado, das 10h às 19h. Domingos e feriados, das 11h às 18h. Último acesso para visitação 1h antes de fechar o espaço.
Ingressos: R$ 17,00 (inteiro) e R$ 8,50 (meia-entrada)
Pontos de venda: no site https://www.farolsantander.com.br/#/poa e no local
Agendamento grupos e escolas:
https://www.sympla.com.br/evento/agendamento-de-visitas-de-grupos-somente-de-tercas-a-sextas-ao-farol-santander-porto-alegre-2023/1844178
Sobre a coleção e o colecionador
Justo Werlang é colecionador de arte há aproximadamente três décadas. Personalidade importante no meio artístico brasileiro, é um dos responsáveis pela criação da Bienal do Mercosul (da qual foi presidente na 1ª e na 6ª edição), da Fundação Iberê (da qual integra o Conselho desde 1995), além de ter participado ativamente na Fundação Bienal de São Paulo (2009-2018).
Sua coleção está constituída, especialmente, de trabalhos de Iberê Camargo (1914-1994), Francisco Stockinger (1919-2009), Siron Franco (1947), Nelson Felix (1954), Daniel Senise (1955), Karin Lambrecht (1957), Mauro Fuke (1961) e Felix Bressan (1964), além de obras de Vasco Prado e Gustavo Nakle.
Na opinião de Gabriel Pérez-Barreiro, “Justo Werlang tomou uma decisão importante ao limitar o número de artistas em sua coleção, optando por profundidade ao invés de variedade. Assim, seu acervo é um conjunto de vários núcleos abrangentes, quase retrospectivos, de alguns artistas, entre eles, Siron Franco”. Sobre a exposição Siron Franco - Armadilha para Capturar Sonhos, Pérez-Barreiro ressalta que “a diferença dessa seleção para aquela que poderia ser feita para uma exposição retrospectiva de múltiplas fontes, organizada por um museu, é que cada obra passou por um processo de escolha rigoroso e profundamente pessoal do colecionador. Como resultado, a seleção não pressupõe abrangência nem pretende fazer justiça à carreira do artista, embora, curiosamente, passe por praticamente todos os grandes trabalhos e momentos importantes de sua trajetória”.
Siron Franco afirma que é muito difícil um artista sobreviver de seu trabalho sem a contribuição do colecionador. E acrescenta: “Cada colecionador escolhe um Siron diferente a partir das obras que coleciona. Colecionar é uma forma de amor, e muitos colecionadores cuidam melhor das obras até mais do que alguns museus. O Justo me coleciona há praticamente 50 anos. Nesta exposição, ele empresta as obras para que elas sejam divididas com o público, o que é algo muito generoso”.
Sobre a dimensão que esta coleção toma ao ser apresentada ao público, Justo Werlang declara: “mostrar a seleção realizada pela curadoria, da coleção de trabalhos de Siron, me parece ter potencial para trazer à luz elementos relevantes do pensamento e da obra desse importante artista brasileiro. Essa mostra tende a evidenciar a pesquisa permanente do artista, as invenções artísticas que gerou ao impor-se mudanças periódicas e, por que não, seu precoce e permanente posicionamento frente a questões que só recentemente parecem estar na agenda de governos, instituições, formadores de opinião, e pessoas comuns como eu”.
Sobre o artista
“Não consigo ficar sem pintar, sem criar, porque para mim não importa como a criação vem. Às vezes, eu me impulso só com uma frase. Não importa a forma que a pintura cobre, porque ela é meu grande rio, e os restantes das linguagens são afluentes.” (Siron Franco em entrevista para Angel Calvo Ulloa, curador espanhol)
Pintor, escultor, ilustrador, desenhista, gravador e diretor de arte (nascido Gessiron Alves Franco, em Goiás Velho, Goiás, em 1947), Siron Franco tem uma produção artística de predominância pictórica, em que mescla ora num vocabulário surrealista, ora com abstrações ainda passíveis de identificação alegórica, comentários críticos sobre problemas sociais e personagens da cultura pop e do cerrado goiano.
Em 1959, aos 12 anos, passa a frequentar como ouvinte as aulas do curso livre de artes da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), onde permanece até 1964. Simultaneamente aos seus estudos informais, Siron executa diversos retratos e paisagens do cerrado para a elite de Goiânia, a fim de arcar com os custos do curso e auxiliar a vida doméstica, e investe numa figuração gráfica grotesca e criticamente caricatural.
Em 1968 é contemplado com o Prêmio de Desenho da Bienal da Bahia, mudando-se no ano seguinte para São Paulo, onde reside até 1971. Em 1974 recebe o prêmio de melhor pintor nacional na 12ª Bienal Nacional de São Paulo, participa também da 13ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1975, com 13 telas da série Fábulas do Horror.
A série mais conhecida do artista, e que desencadeia uma mudança paradigmática em sua produção, é o conjunto de obras ligadas ao acidente radioativo do Césio 137, em Goiânia, em setembro de 1987. Como resultado de seu estado de indignação pela demora no atendimento aos contaminados e na contenção dos danos causados pela radiação, o artista produz telas, desenhos e esculturas em que há uma economia de elementos de fundo e um destaque às pontuais imagens que funcionam como alegorias a tragédia radioativa, principalmente, o uso do amarelo fosforescente em menção à letalidade da substância e da terra retirada diretamente do entorno da cidade de Goiânia.
Após esse evento trágico, sua produção toma um rumo de militância política. O artista passa a elaborar monumentos e ações poético-críticas, transitando desde os tópicos das violações aos direitos civis até os problemas ecológicos e o genocídio histórico das comunidades indígenas.
Ainda que com predomínio da pintura em sua obra, a produção de Siron Franco tem uma variedade técnica e material bastante rica, coerente com seus temas, que seguem das crônicas do cotidiano à crítica às fissuras sociais, com enfoque considerável na contingência do entorno de Goiás, com sua população laboral e indígena.
Sobre o curador
Gabriel Pérez-Barreiro é curador e historiador de arte, doutor em História e Teoria da Arte pela Universidade de Essex/Reino Unido e mestre em Estudos Latino-Americanos e História da Arte pela Universidade de Aberdeen/Reino Unido. De 2008 a 2018 foi diretor e curador chefe da Coleção Patrícia Phelps Cisneros, Nova York/EUA, onde atualmente trabalha como conselheiro técnico e estratégico. De 2002 a 2008 foi curador de Arte Latino-Americana no Blanton Museum of Art, Universidade do Texas, em Austin/EUA. De 2000 a 2002 foi diretor de Artes Visuais no The Americas Society, Nova York/EUA. Foi também coordenador de projetos e exposições da Casa de América (Madri/Espanha) e Curador Fundador da Coleção Essex de Arte Latino-Americana da Universidade de Colchester/Reino Unido. Em 2007, sua exposição Geometry of Hope foi reconhecida como a melhor exposição nacional pela seção norte-americana da Associação Internacional dos Críticos de Arte (AICA). Tem publicado livros e artigos sobre a história da arte iberoamericana e profere conferências e palestras em diversas universidades. É membro do coletivo ESTAR(SER) - the Esthetic Society for Transcendental & Applied Realization.
No Brasil, Pérez-Barreiro atuou como curador-chefe da 6ª Bienal do Mercosul em Porto Alegre (2007), curador-chefe da 33ª edição da Bienal Internacional de São Paulo (2017/2018) e curador da representação brasileira na 58ª Bienal de Veneza (Itália, 2019). Foi também conselheiro da Fundação Iberê.
Sobre o Farol Santander Porto Alegre
Criado para relembrar o passado, marcar o presente e iluminar o futuro, o Farol Santander Porto Alegre completou quatro anos em março de 2023. Neste período, recebeu 13 exposições de artes visuais, em diversas temáticas, com artistas nacionais e internacionais, divididas entre os espaços do Grande Hall e do Mezanino. Em 2022, o Farol Santander Porto Alegre ampliou sua atuação cultural com concertos de música clássica e popular, além de espetáculos de dança.
Projetos conectados à gastronomia, como o Restaurante PopUp!, além de inovações culturais como o Extensões e o Farol.Live, também passaram a ocupar o edifício no Centro da capital gaúcha. Ainda em 2022, o Farol Santander Porto Alegre marcou presença como uma das instituições participantes da Bienal do Mercosul 2022.
O histórico prédio, construído na década de 1930 e tombado pelo patrimônio histórico e artístico estadual, também possui atrações permanentes. No subsolo, a exposição fixa Memória e Identidade apresenta a história da cidade, do prédio e da política monetária brasileira. Também no subsolo, a outra mostra permanente, Os Dois Lados da Moeda, conta com um importante acervo de numismática do Rio Grande do Sul, propondo uma analogia entre as moedas “oficiais" e "não oficiais" que circulavam na região. Nas laterais da sala é contada a evolução da moeda oficial do estado brasileiro.
Além dos espaços já citados, o Farol Santander Porto Alegre conta ainda com duas arenas para discussões e debates acerca de temas como cultura e gastronomia. O subsolo do prédio ainda oferece aos visitantes o Kofre Café e o restaurante Moeda.
Fonte Jessica Barcellos
Foto: DelRe/Stein/VivaFoto