Ao invés de relatar como sempre fatos importantes sobre o mercado do Luxo em sua coluna, nesta edição Paulo Roberto Chiele, especialista no mercado do Luxo, conversou com a Revista Onne & Only sobre vários temas atuais do setor e que temos o prazer em compartilhar com nossos leitores. As tendências oriundas do mercado do Luxo podem servir de inspiração para uma variedade de empresas que acompanham a coluna e se interessam pelo tema.
Paulo falará também sobre suas experiências recentes no exterior a respeito do aperfeiçoamento das técnicas de treinamento de pessoal para atuar no setor do Luxo: “Uma grande deficiência do nosso mercado e uma das principais dificuldades encontradas pela maioria das empresas de Luxo que se instalam no país”, comenta. Ao mesmo tempo, informações importantes para quem desejar ingressar neste universo e aproveitar seus benefícios! Boa leitura!
Paulo, primeiramente, gostaríamos de saber como anda o mercado do Luxo no Brasil em 2017 e quais as previsões?
Com exceção de alguns setores, como imobiliário, hoteleiro e náutico, o Brasil também passa por dificuldades no setor do Luxo. As vendas do varejo já apresentam queda de 3,4%. O que não é bom sinal, mas ainda assim é esperado um crescimento no final do ano na ordem de 1% e até 2% em 2018. Teremos em breve três grandes empreendimentos hoteleiros de Luxo, como o recém-inaugurado Palácio Tangará no Parque Burle Max. Contaremos também com o Four Seasons em São Paulo e o complexo Matarazzo, pelo grupo Rosewood. Extremamente luxuosos e que vão na contramão da realidade atual. Empresas que realmente acreditam na recuperação do potencial brasileiro.
Quais seriam as razões para esta queda, uma vez que a camada favorecida da população não enfrenta tantas dificuldades financeiras?
Bem, entendemos que o dinheiro das camadas mais altas da sociedade não desapareceu, mas o fraco desempenho da economia e as instabilidades políticas fazem com que os investimentos e os gastos sejam mais controlados e comedidos. Houve uma grande redução em 2016 de viagens ao exterior para compras, o que favoreceu um pouco as vendas domésticas de Luxo, mas mesmo assim não o suficiente para compensar a retração. Há muita insegurança ainda sobre o que está por vir.
Como se consome Luxo no Brasil e onde está o maior volume?
São Paulo ainda concentra a maior parcela de consumo de luxo do País, mas não quer dizer que sejam apenas os paulistas os consumidores. Pessoas de todo o Brasil visitam São Paulo para lazer, negócios ou serviços e acabam consumindo nos principais polos de venda de Luxo da cidade. Rio de Janeiro e Curitiba também se destacam na oferta de produtos de Luxo. No Brasil, a cultura de shopping centers para venda de produtos de Luxo é a mais comum, e temos o Cidade Jardim, o JK, o Iguatemi em São Paulo com uma grande variedade de marcas internacionais. No Rio, o VillageMall é muito bonito e, em Curitiba, o Pátio Batel está muito sofisticado! Em breve teremos mais uma operação do grupo JHSF nos jardins, em São Paulo, com cerca de 50 lojas de luxo em um ambiente bastante agradável e sofisticado!
Mas existe potencial de consumo de Luxo no Brasil para todas estas operações?
Assim que forem resolvidos estes problemas na política e na economia, acredita-se que a renda do brasileiro deva aumentar. Já existe no Brasil um número estimado de cerca de 280 mil famílias com renda superior a US$ 250 mil anuais, o que faz do Brasil um dos mercados de maior potencial para o luxo na América Latina. O coeficiente “aspiracional” do brasileiro em relação aos produtos de luxo ainda é um fator de extrema importância para a manutenção dos volumes de venda. Mesmo consumidores com baixa renda fazem esforços para ostentar um produto de Luxo, o qual serve quase como um “crachá social”, que habilita o indivíduo a fazer parte de um determinado grupo de pessoas, ou pelo menos acreditar que faça! Lembre-se que o Brasil é o único país no mundo que vende Luxo em 10 vezes no cartão!!!!
Fale um pouco da sua experiência como colunista de um dos principais sites do mundo de assuntos relacionado ao Luxo, o Luxury Daily.
É, sem dúvida, uma experiência interessante e ao mesmo tempo um desafio, afinal temos que prestar informações que sejam relevantes aos consumidores do mundo inteiro. Mas minha ideia é mesmo enviar notícias que despertem o interesse de indivíduos para que conheçam o Brasil e para que empresas de luxo conheçam mais sobre o potencial das diversas regiões. Minha participação assídua nos últimos três anos nos seminários e encontros organizados pelo Luxury Daily, em Nova Iorque, me colocaram em contato com um grande número de empresas que atuam mundialmente no setor do Luxo. Um intercâmbio muito rico e promissor.
Ficamos sabendo também que a sua consultoria, a PRC Consultoria em Luxo, está organizando material para treinamento de pessoas para o setor do Luxo.
Sim, estamos trabalhando neste projeto. É uma grande deficiência do setor do Luxo encontrar pessoas capacitadas e de atendimento a este público diferenciado. Tive o prazer e o privilégio de fazer parte da primeira turma de formação, organizada pela Retail Performance Academy de Nova Iorque, que treina vendedores de elite para atuarem no setor. Este curso, coordenado pelo Luxury Institute, foi uma experiência muito enriquecedora e me estimulou a criar um módulo de ensino para pessoas de vendas, usando conceitos e ideias aplicados comumente no setor do Luxo. Naturalmente, o método é exclusivo da Academia e não pode ser replicado, mas estou trabalhando em uma versão adaptada ao consumidor brasileiro, através da minha experiência e de experiências anteriores de aprendizado na França e em São Paulo. Pretendemos oferecer treinamento para vários setores do comércio e serviços, desde Porto Alegre para todo o Estado. E, por que não, para demais estados do Brasil, pois já temos demanda.
De que outras formas a PRC Consultoria pode ajudar as empresas?
Em momentos de crise como este, que certamente não será o último infelizmente, é muito importante que as empresas tenham um plano B. As técnicas de gestão do Luxo ajudaram muitas empresas de outros setores a encontrar alternativas para contornar a crise. Nestas situações de crise, o preço torna-se o protagonista e as disputas são acirradíssimas. Quando você pode contar com fatores adicionais que favoreçam seus produtos e ofertas, as possibilidades de negócios exitosos são maiores. As técnicas do Luxo ajudam neste aspecto.
De onde mais a PRC Consultoria se abastece com materiais para seu trabalho?
Estou em constante contato com empresas ligadas ao setor na Europa e nos Estados Unidos. No mês de julho participei em Paris do Salon du Luxe para mais atualizações. Acabo de retornar do Japão e pude constatar em Tóquio um comércio de Luxo extremamente ativo e consciente. As mais lindas flagships das principais grifes mundiais estão ali representadas não apenas com uma loja, mas sim com várias espalhadas pela cidade. O nível de Luxo é tão alto no Japão que até nas inúmeras estações de trem da cidade existe uma variedade de opções para Chanel, Armani, Hermes, Prada, Gucci, etc. Não só as grifes internacionais, mas também as marcas japonesas de Luxo, têm como lema fazer bem feito e nunca desistir da busca pela perfeição. É notório nos produtos, embalagens, lojas e sem falar no serviço impecável prestado pelas pessoas. O nível de educação e profissionalismo é impressionante!.
O que mudou no consumo de Luxo e quais são as tendências?
É sempre difícil falar de tendências para um público cada vez mais infiel a marcas e produtos. A nova geração de consumidores do Luxo, os chamados millennials, tem dado prioridade para o consumo de produtos de luxo que tenham significado, estória coerente e uma simplicidade que vá ao encontro de seu novo estilo de vida. Quanto aos consumidores tradicionais do luxo, que já tem literalmente “tudo de tudo”, a tendência é o consumo de produtos ligados a experiências e networking. É preciso oferecer mais do que produtos! Além disto, se não tiver excelência e alta qualidade, esqueça!
Não podemos deixar de lado o fato de que, mesmo no consumo de Luxo para todas as camadas, ou tribos, é preciso oferecer soluções “mobile”, pois o consumo já acontece a qualquer momento.