‘Convergente/Divergente: diálogos da terra’ e ‘Não será possível sobreviver sem contar nossa própria história desde outro mundo’ são as mostras iniciadas desde 25 de outubro com as artistas Adriana Giora, Bianca Santini e Gabz 404
Bianca Santini e Adriana Giora são as convidadas do projeto Artista + Artista da Galeria Ecarta, na mostra ‘Convergente/Divergente: diálogos da terra’. A exposição explora o encontro e as divergências entre as práticas artísticas conectadas pela observação da força da natureza na paisagem urbana, mas distintas em suas abordagens. Enquanto Santini abraça o caos da cidade e a força da natureza, criando obras intensas que evocam desordem e resistência, Giora se dedica à paciência e à contemplação, moldando cerâmicas que remetem aos ciclos da terra e à reconexão com o natural.
Metáfora da vida
Em diálogo, as artistas provocam uma reflexão sobre a dualidade entre caos e ordem, urgência e cuidado, força e fragilidade. A exposição convida a revisitar a paisagem como metáfora da vida contemporânea, desafiando o público a encontrar beleza tanto na destruição quanto no renascimento.
“Ao confrontar esses extremos, a mostra revela que, embora opostas, essas forças complementares formam a base da complexa relação humana com a natureza e o tempo”, observa o coordenador da Galeria Ecarta, André Venzon.
A mostra tem a curadoria de Letícia Lau e traz instalação em cerâmica e ferro, desenho em pastel seco nas paredes, além de 20 desenhos em papel em variadas dimensões e grandes fotografias.
“O meu fazer cerâmico é uma representação mágica de minhas memórias afetivas misturadas à realidade contemporânea onde tudo o que se refere a natureza parece cruel e ao mesmo tempo faz uma relação romântico- introspectiva da realidade. A natureza me remete aos pensamentos mais profundos e introspectivos de meu ser,” discorre Giora.
“A arte, como metáfora da vida, está presente na fragilidade dos galhos secos e na iminência de esfacelar. Somos frágeis e a natureza é forte. A fragilidade se manifesta em não compreendermos que somos uma ameaça à natureza, toda vez que nos colocarmos em primeiro lugar e não consideramos que fazermos parte do todo. Cada ação gera uma reação”, acentua Bianca Santini.
Projeto Potência apresenta 34 obras de Gabz 404
A exposição de Gabz 404 ‘Não será possível sobreviver sem contar nossa própria história desde outro mundo’ apresenta 34 obras entre fotografias, impressão jato de tinta em papel offset na sala do Projeto Potência, no segundo andar da Fundação Ecarta.
“Este projeto surgiu em 2020 como um manifesto, uma forma de romper com a expectativa de que pessoas trans, travestis e não-binárias tem que ser uma coisa ou outra, violentadas ou colocadas em pedestais, ativistas de direitos ou “passáveis”, raivosas ou comportadas”, pontua Gabz 404.
Esta criação conta com um acervo imagético, sonoro e textual de cerca de 40 pessoas e se desdobra nas contradições e fissuras de ser capaz de compreender as muitas complexidades do que é ser trans, detalha. “Hoje, o projeto nega a identificação e se sustenta na des-identificação,” completa o artista selecionado no edital do Projeto Potência.
O projeto se debruça sobre as contradições, partindo da premissa de que, discutir identidade também é discuti-la como forma de des-identidade. Dispostas como constelações, as imagens desestabilizam olhares normativos, não para afirmar um lugar de pertencimento, mas para abrir brechas nos discursos que insistem em categorizar o que é possível viver, sentir e imaginar. Mundos possíveis, conclui o artista que conta com texto curatorial de Sue Gonçalves.
Trajetórias
Adriana Giora
Artista visual e ceramista nascida em Salto, Uruguai, em 1957, e radicada em Porto Alegre desde 1973. Desenvolve uma poética voltada à exploração de formas orgânicas, utilizando cerâmica e ferro. Suas obras resgatam suas memórias afetivas ligadas a jardins e à natureza, compondo instalações modulares e seriadas que aliam arte e design. Entre suas exposições individuais destacam-se “No Limiar do Jardim” (2019, MARGS, Porto Alegre), “O Jardim Secreto” (2017, Fundarte Montenegro, RS; 2016, Espaço Cultural IAB, Porto Alegre). Também participou de importantes mostras coletivas como “Do Branco ao Cinza”(2023) e “Memórias - Doações MACRS” (2018). É conselheira da Associação dos Amigos do MACRS e tem uma trajetória ativa em associações culturais como a Chico Lisboa e a AERGS.
Bianca Santini
Artista visual nascida em Porto Alegre em 1976, iniciou sua trajetória artística aos seis anos no Centro de Desenvolvimento Expressão (CDE) e seguiu seus estudos no Atelier Livre da Prefeitura, explorando técnicas como pintura, escultura, cerâmica e gravura. Graduada em Design pela ESPM em 2003, foi aluna de importantes nomes da arte gaúcha, como Elizeth Borghetti, Clara Pechansky, Julio Ghiorzi, Paulo Chimendes, Maria Helena Bernardes, André Severo, Jailton Moreira e André Venzon. Em 2017, realizou sua primeira exposição individual, "Risco e Ar", no MARGS, com curadoria de Gabriela Motta. Tem obras no acervo do Museu de Arte Contemporânea do RS e do MARGS. Participou de diversas exposições coletivas no Brasil e no exterior, incluindo mostras no Rio de Janeiro e em Montevidéu. Sua produção atual abrange pintura, desenho, aquarela, colagens e instalações, desenvolvidas em seu atelier em Porto Alegre.
Letícia Lau
Curadora independente e produtora com sólida formação acadêmica e ampla experiência em gestão e práticas curatoriais. É especialista em Práticas Curatoriais pelo PPGAV, Instituto de Artes da UFRGS, e em Gestão Cultural pelo Senac-RS, além de possuir bacharelado em Artes Plásticas e licenciatura em Arte-Educação pela UFRGS. Como proprietária da Babilônica Arte e Cultura, desenvolve projetos curatoriais e de produção cultural, organizando exposições no Brasil e no exterior, e atua também como mentora de artistas visuais. Integrou o Conselho Consultivo do MACRS e foi curadora assistente no mesmo museu entre 2015 e 2018. Atuou na diretoria da Associação Chico Lisboa (2014-2016) e como membro do Conselho Estadual de Cultura do RS (2015-2016), contribuindo significativamente para o cenário cultural gaúcho.
Gabz 404
Artista visual, fotógrafo, pesquisador e astrólogo. Seu trabalho explora as funções políticas e epistemológicas das imagens para especular sobre novas formas de ser (mais que) humano, investigando como as dissidências de gênero desafiam o status quo. Seus projetos abordam temas como identidade, memória, ecologia, inteligência artificial e o cosmos. Criou em 2020 o projeto ser trans, um arquivo de memórias visuais, sonoras e textuais de pessoas trans vivas. Em 2022, ele co-dirigiu e produziu o documentário Intransitivo. Outras pesquisas em andamento incluem Insurgência de Aquário e 2384, que exploram como a inteligência artificial armazena dados do inconsciente coletivo e as implicações dessas tecnologias. Em 2024, foi indicado ao Prêmio Pipa e residente no Pivô em São Paulo. Teve seu trabalho exposto em diversas instituições, incluindo The Royal Photographic Society (Reino Unido), Bienal de Bochum (Alemanha), Instituto Moreira Salles (São Paulo, Brasil) e Museu Casa das Onze Janelas, através do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia (Belém, Brazil).
SERVIÇO:
O QUÊ: Abertura de exposições de três artistas
Artista + Artista – Adriana Giora e Bianca Santini
Projeto Potência – Gabz 404
LOCAL: Fundação Ecarta – Avenida João Pessoa, 943 – Porto Alegre
VISITAÇÃO: Até 24 de novembro de 2024, de terça a domingo das 10h ás 18h, inclusive feriados.
ENTRADA FRANCA
Fonte Leticia Lau
Fotos Nilton Santolin