Tudo que eu sabia sobre o Brooklyn, quando eu cheguei em Nova York há seis anos, era que o Brooklyn, de acordo com a série Americana Law & Order, era um bairro perigoso com tiroteios, perseguições e onde corpos desapareciam no rio. Eu também sabia que a Miranda (sim, da série Sex and the City) em certo ponto teve que tomar a dolorosa decisão de cruzar a ponte para poder bancar um estilo de vida mais confortável para a sua família que estava crescendo. Aparentemente o mercado imobiliário estava explodindo e ela poderia comprar uma casa inteira pelo preço de um JK em Manhattan. E isso era tudo que eu sabia, a pouca informação que eu recebera tinha sido entregue a mim através de programas de televisão.
Aquela informação que eu tinha, não foi exatamente o que eu encontrei quando cheguei aqui e decidi cruzar o rio pela primeira vez. Convenhamos, o Brooklyn pode ser um lugar complicado de entender, longe da organizada grade de ruas de Manhattan. O que muitas pessoas não sabem, no entanto, é que Brooklyn não é simplesmente um bairro; Brooklyn é uma das cinco zonas que formam a cidade de Nova York. Eles têm administração própria e bairros próprios. O maior deles se chama Williamsburg e, sozinho, Williamsburg retém a maior população dentro da cidade de Nova York, com mais de 135 mil habitantes. Williamsburg no entanto é apenas uma pequena parte do Brooklyn; e o Brooklyn, por sua vez, somente recentemente foi adicionado à cidade de Nova York. Há pouco mais de cem anos, Brooklyn era uma cidade independente, na realidade, se Brooklyn ainda fosse uma cidade, seria hoje a maior cidade dos Estados Unidos.
Os bairros mais valorizados dessa região hoje em dia se parecem com qualquer outra parte de Manhattan, exceto com uma população bem mais jovem e artística. E eu não digo isso pra causar qualquer tipo de exclusão, é simplesmente um fato. Depois que o Soho e o East Village enxotaram seus jovens artistas com seus preços altíssimos e falta de espaço (lofts começaram a ser convertidos em luxuosos apartamentos), foi ali que esses jovens artistas encontraram refúgio.
Uma das minhas primeiras experiências no Brooklyn foi em um jantar na “casa” de um fotógrafo que era casado com uma artista gráfica. Os dois dividiam um armazém antigo gigantesco e viviam no mezanino, enquanto no térreo executavam seu trabalho entre laboratórios de foto e máquinas de impressão gráfica e materiais artísticos de todos os tipos; foi uma das experiências mais fascinantes que vivi naquela época. Não muito tempo depois, fui a uma festa de aniversário na casa de um designer no bairro Bed-Stuy. Quando cheguei no endereço não entendi nada, era um prédio de tijolos à vista, antigo, de dois séculos atrás, um corpo de bombeiros. Pois bem, a porta se abriu e aí me dei conta: era a casa do dito designer! Um corpo de bombeiros abandonado havia sido transformado em um estúdio e uma residência. Para minha surpresa, seis anos mais tarde, assistindo a série da HBO Girls, vi aquela mesma casa sendo usada como cenário para um dos episódios! O Brooklyn está passando hoje pelo mesmo processo que diversos bairros em Manhattan passaram há vinte ou trinta anos. Então, sim, o Brooklyn, ou pelo menos parte dele, se tornou refúgio para noviços nova-iorquinos, famílias jovens e artistas de todos os tipos. Assim a história prossegue. Williamsburg, por sua proximidade com Manhattan, se tornou então um dos bairros mais valorizados da cidade. Na primeira parada da linha L do metrô, esse bairro é hoje um dos mais caros e evoluídos da região e, assim, os jovens e artistas passaram a se espalhar para áreas ainda mais distantes. Dumbo, Bed-Stuy, Park Slope, Greenpoint, Carroll Gardens são alguns dos nomes que hoje se tornaram tão normais em conversas como SoHo ou Chelsea. Essa é a natureza das coisas, a evolução da cidade que nunca dorme.
Ao longo das avenidas Bedford, Havemeyer, Metropolitan e Roebling os sinais de mudança são visíveis. De um mês para o outro, a fachada que estava vazia dá vez à rede de sorveterias 16 Handles ou para uma loja de alfaiataria sob medida. A melhor parte dessa evolução do Brooklyn, no entanto, é que de alguma forma ao longo dos anos, a região conseguiu manter seu caráter original, tão copiado por outros lugares país afora. O bairro Brooklyn Heights, por exemplo, nunca deixou de lado as ruas de paralelepípedo por onde um dia o escritor Truman Capote caminhou em sua rotina diária. Os postes de luz permanecem no mesmo local e a vista de Manhattan, bem representada no filme O Feitiço da Lua, que deu a Cher um de seus Oscars, permanece uma das mais marcantes do país.
Hoje em dia, o lugar onde Barbra Streisand nasceu pode ser o lar de Winona Ryder, Mary Louise Parker ou Maggie Gylenhall, quem diria? As mesmas calçadas por onde Woody Allen caminhou em sua infância evoluíram e são agora frequentadas por fashionistas como Alexa Chung a caminho dos novos restaurantes da moda ou bares do momento. Esses mesmos locais há dez ou quinze anos jamais atrairiam moradores de Manhattan, a não ser que estes estivessem a caminho do aeroporto.
O mais recente, em uma série de atraentes restaurantes, é o Italiano nuveau Antica Pesa, que tem fama de atrair famosos como Madonna e Harvey Weinstein. Entretanto, sou obrigado a informar que, com os preços que eles cobram por suas porções europeias da comida deliciosa, só sendo muito rico mesmo pra frequentar! Para o meu paladar (e conta bancária), estou mais disposto a passar minhas noites jantando no superdescolado Roebling Tea Room. Uma das gemas locais, esse restaurante tem um menu delicioso e sucinto com porções mais realistas e preços justos. Mas não se limite a estas opções. Se o seu gosto é por comida com ingredientes que vêm da fazenda direto para sua mesa, orgânicos, sem glúten, então o restaurante Wild vai ser a melhor opção, esse local é famoso por suas pizzas. Se tudo que você procura, no entanto, é um bom sanduíche para matar a fome, então vale correr pro recém-aberto The Sandwich Shop, onde o Tokyo Breakfast Sandwich ou o The Mexican são pedidas populares. No Reynard a comida fabulosa é servida em um ambiente superagradável que inclui jardins de verão e inverno e uma mesa comunitária. E se você pensava que essa proposta não poderia ficar melhor, pense mais uma vez. O Reynard faz parte do hotel mais comentado de Nova York, o Whyte Hotel, composto por quartos com vistas belíssimas não apenas de Manhattan, mas também do Brooklyn todo. De um lado arranha-céus, do outro prédios industriais e casas a perder de vista. A cobertura desse hotel é também uma ótima pedida para drinks no comecinho de noite, com direito a DJ e acesso ao pôr do sol.
A rica cena local não está limitada a novos hotéis e coberturas. Não muito longe da beira desses bairros está a famosa Brooklyn Brewery, uma conhecida marca de cerveja local, facilmente encontrada em qualquer bar da cidade. Se você estiver em espírito de aventura, por que não fazer um tour pela fábrica e beber uma jarra com os amigos? Dali, uma ótima opção pra dar continuidade na noite é provar um dos bares locais com música ao vivo. Williamsburg Music Hall, Union Hall e The Rock Shop são apenas alguns dos muitos famosos bares do Brooklyn que lançaram bandas como Grizzly Bear, Tanlines e Sleigh Bells ao estrelato.
Quando o clima não está pedindo música, muitas vezes o Nitehawk Cinema é a minha pedida. Quando estou com um desejo de uma sessão da meia-noite de clássicos como Scarface ou Trainspotting na tela grande é lá que encontro refúgio. Toda ação cinematográfica acontece ao embalo de drinks e beliscos que são trazidos até a sua poltrona por garçons superempenhados. Outra opção legal é o tradicional Brooklyn Bowl, onde você joga boliche ao som de uma banda ao vivo. Os gêneros musicais variam de acordo com o dia da semana e podem ir de salsa até musica clássica. Outra preciosidade local é a fábrica de chocolate Mast Brothers. Este ícone local fabrica apenas chocolate amargo em diversas variações, em sabores únicos. Exportado para milhares de lojas fora do Brooklyn, que são atraídas primeiramente pelas embalagens criativas e singulares, mas principalmente pelo apelo da fabricação tradicional. Alguns dos sabores mais vendidos incluem o chocolate com sal grosso e o chocolate apimentado.
No Brooklyn eu também redescobri uma das minhas atividades favoritas: o mercado das pulgas. Isso era uma das poucas coisas que eu tinha ouvido falar sobre o Brooklyn que de fato provou ser a mais pura realidade; essa região é rica em lojas e feiras de segunda-mão cheias de estilo e peças interessantes. Mas como encontrá-las? Bem, minhas opções favoritas a céu aberto são o Fort Greene Flea, ou o mercado do Williamsburg Waterfront, que abre entre a primavera e o outono, aos domingos. Nesse mesmo local, nos sábados, é possível também desfrutar de um delicioso mercado culinário chamado Smorgasburg, que é disparado uma das escolhas favoritas para os finais de semana. Lá é possível desfrutar de pratos de diversos cantos do mundo, sentado num gramado à beira do rio com uma vista única.
A minha perspectiva sobre o que é o Brooklyn evoluiu, ainda bem. Desde que mudei para cá, vim a descobrir o Brooklyn como é de verdade, um lugar cheio de diversidade com bairros singulares e cheios de características particulares. Um lugar onde os judeus, poloneses, italianos e dominicanos aprenderam a viver uns ao lado dos outros em harmonia e a dar espaço a um eclético grupo de jovens invasores de todas as outras partes do planeta. Um lugar que tem uma vida rica e independente. Manhattan tem o Central Park como seu pulmão, aqui existe o Prospect Park.
A pequena ilha de Manhattan existe gigante em seu microcosmo, o Brooklyn vibra em constante e inesperada evolução. A minha visão do Brooklyn não é mais apenas a visão limitada de quem usava a televisão como referência. A minha fonte de informação sobre o Brooklyn hoje em dia vem das minhas próprias experiências, onde em cada esquina, a cada semana que se passa, é possível descobrir um novo mundo de possibilidades.