O CHAMADO DA ÍNDIA

É impressionante como a Índia gera curiosidade. Quando anunciei que passaria 20 dias fazendo trabalho voluntário em Jaipur, recebi uma avalanche de perguntas, críticas e recomendações.

A Índia assumiu, em abril deste ano, o posto de nação mais populosa do planeta, superando a China, que reinava absoluta desde que o ranking de população começou a ser elaborado pela ONU em 1950. Maior produtora de softwares do mundo, destaque na produção de eletroeletrônicos e biotecnologia, e dona da maior indústria cinematográfica, conhecida como Bollywood, em referência à cidade de Bombaim – atual Mumbai. A Índia, desde o ano passado, é a quinta maior economia do mundo e está situada no continente do futuro, cortejada pelas grandes potências por sua posição geopolítica.

Mas o que foi falado para mim resumiu a Índia em pobreza, sujeira e uma comida de dar medo. A escritora Chimamanda Ngozi Adichie fala em seu maravilhoso TED sobre o perigo de uma única história, quando um país e toda uma cultura é resumido a uma única percepção. Me sinto assim quando acham que o Brasil se resume a favelas e Carnaval. Me senti assim quando cheguei na Índia, e vivi intensamente aquele lugar dificílimo de ser descrito em palavras.

A Índia não é um destino turístico, é destino. Ouvi dizer que a Índia chama. Verdade. É preciso ser chamado e estar com o coração aberto e entregue para sentir sua beleza. A Índia é caldo de mundo, mar de gente, caos num fluxo suave de mantras, rituais, cores, cheiros, toque, espiritualidade e amor. A Índia acolhe, recebe, ensina e dá.

Fui recebida de braços abertos pelas 35 meninas com HIV, acolhidas no Aashray Care Home, orfanato que ressignificamos como nas ações da DU99 no Brasil: pintamos todos os dormitórios e refizemos a fachada, onde ficaram gravadas as mãos das meninas e parte do meu coração. No Saarthak, um projeto social que capacita e empodera meninas carentes, tive a oportunidade de conhecer jovens com brilho nos olhos, curiosas e corajosas, preparadas para serem protagonistas de suas vidas e agentes de mudança em prol das mulheres dentro das suas comunidades. No Templo Sikh, de Nova Delhi, acompanhei o trabalho fantástico de voluntários que cozinham e oferecem refeições no Templo para 5.000 pessoas, todos os dias, chegando a 10.000 refeições nos finais de semana.

A Índia impacta porque parece que esquecemos de viver do jeito certo, com leveza, gratidão e respeito por todos os seres. É desigual e incompreensivelmente suja, mas essa não é sua única história.