MACRS inaugura a exposição "A Linha dá o Ponto, a Linha dá o Caminho", da artista Aline Bispo

Exposição integra programação do “Novembro Negro" da SEDAC
Texto Silvia Martins, SEDAC
Fotos Tatiana Mito


POR ASCOM MACRS EDIÇÃO: SILVIA MARTINS | ASCOM SEDAC
O Museu de Arte Contemporânea do RS (MACRS), instituição vinculada à Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), inaugura no dia 23 de novembro, a partir das 18h, na Galeria Sotero Cosme, 6º andar da Casa de Cultura Mario Quintana, a exposição “A Linha dá o Ponto, a Linha dá o Caminho”, da artista Aline Bispo, com curadoria de Alexandre Bispo.

A mostra, integrante da programação do “Novembro Negro: um convite à reflexão sobre equidade racial”, promovida pela Sedac, é o resultado dos mais recentes desdobramentos de pesquisa artística de Aline Bispo. Com curadoria de Alexandre Bispo, essa é a primeira exposição individual no âmbito institucional da artista e apresenta trabalhos desenvolvidos durante um processo de investigação aprofundado em diversos lugares do Brasil. Nesta jornada ela mergulhou profundamente em temáticas relacionadas à identidade brasileira, observando questões que tangenciam construções como a miscigenação, o gênero e o sincretismo como forma de encontro e embate nas esferas religiosa e cultural. A mostra no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), apresenta trabalhos inéditos entre pinturas, esculturas e instalação, originados a partir dessa investigação.

Segundo Aline, sua primeira motivação para esse projeto foi o desejo de dar continuidade a sua pesquisa que parte do olhar para si colocando em prática uma metodologia de pesquisa pautada no conceito de corpo-território. Nesse processo o axé é o ponto de encontro capaz de expandir a autocompreensão e a forma como a artista se vê no mundo. Para ela vivenciar e registrar essas festividades é se conectar com esses pontos de encontro que passam pela construção brasileira e suas diversas influências e voltar para si, se reconhecendo também como resultado dessas construções.

Durante o período de um ano, Aline embarcou em viagens para documentar e participar de diversas festividades religiosas pelo país. Sua jornada começou na cidade de Aparecida, no interior de São Paulo, onde participou da festa de Nossa Senhora Aparecida. Em Salvador, a artista se envolveu na celebração de Iemanjá, participando dos diversos cultos que fazem parte dessa festividade. Em Porto Alegre, vivenciou o Bará do Mercado, um patrimônio histórico e cultural da cidade. Em Cavalcante, Goiás, Aline participou da Caçada da Rainha, uma tradição centenária que envolve folias, cortejos, batuques e missas. Ela retornou à Bahia, no município de Cachoeira, para participar da Festa da Boa Morte, uma celebração que envolve o sincretismo entre o catolicismo, o candomblé e a conexão com mães de vários cultos que se unem à Irmandade da Boa Morte. A jornada culminou na Festa de Feira de Baianos, um culto aos encantados que ocorre no terreiro ao qual a artista pertence, localizado em Itapecerica da Serra, São Paulo.

A artista apresenta uma exposição fascinante que se desdobra em múltiplas formas de expressão. A série de seis pinturas inéditas destaca-se por ser a primeira vez em que a artista incorpora aplicações em ouro, criando imagens únicas. Essas obras de arte foram inspiradas por cenas e personagens que Aline encontrou durante suas viagens, capturando momentos significativos. Além das pinturas, a exposição também abriga sua primeira instalação: um altar composto por 10 figuras de gesso, cada uma delas cuidadosamente envolta em tecido e fios de contas. O altar inclui outros objetos com o propósito de conferir uma roupagem renovada a elementos que, ao longo dos anos, foram usados pelas religiões de matrizes africanas, incorporando símbolos católicos e cristãos para expressar sua fé. A intenção aqui é resgatar essa tradição, não necessariamente do ponto de vista ritualístico, mas como um testemunho histórico. Cada figura no altar é adornada com fios de contas, alguns envolvendo todo o corpo, enquanto outros se concentram apenas na cabeça, evocando rituais populares em que as expressões comuns incluem a raspagem da cabeça em homenagem aos orixás.

A necessidade de Aline Bispo de visitar e interagir com uma variedade de espaços físicos, espirituais e festivos surge da busca por entender os sincretismos e hibridismos culturais. A exposição abraça festividades locais, casas, aldeias e terreiros como locais de pesquisa, reconhecendo suas contribuições para as múltiplas facetas da brasilidade. Essa exploração é concebida como uma extensão do próprio corpo-território de Aline e um meio de documentar e dar vida às histórias brasileiras por meio de encontros, trabalhos manuais, expressões de fé, arranjos, flores, fitas, tecidos e memórias.

A programação “Novembro Negro: um convite à reflexão sobre equidade racial”, promovida pela Sedac, por meio de suas instituições culturais, tem por objetivo celebrar o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) e contará com atividades que retratam a luta do povo preto pela igualdade de direitos e oportunidades, o combate à discriminação e à desigualdade, e enaltecem o trabalho de presernalidades e artistas negros na disseminação da arte e da cultura.


Sobre a artista

Aline Bispo é uma multiartista visual, ilustradora e curadora independente de São Paulo. Ela investiga em suas produções temas como a miscigenação brasileira, gênero, sincretismos religiosos e étnicos. Suas obras estão presentes em acervos importantes, como MASP, IMS Paulista, Pinacoteca de São Paulo, SESC, Museu Afro Brasil, Itaú Cultural, MAC-RS e Galeria Luis Maluf. Além disso, ela possui três empenas pintadas no Parque Minhocão, em São Paulo, sendo a primeira delas uma homenagem a Lélia Gonzalez. Aline também é ilustradora de capas de livros, como "Torto Arado" e a trilogia recente de Itamar Vieira Junior, co-autora de "Serena Finitude" ao lado de Anelis Assumpção e ilustra semanalmente a coluna de Djamila Ribeiro para a Folha de São Paulo. Ela também se aventurou no mundo da moda, lançando sua primeira coleção "Belezas Brasileiras Hering" e criando estampas para a coleção "Fartura" de Naya Violeta. Em 2023, ela inaugurou sua coluna mensal na plataforma Nós Mulheres da Periferia.

Sobre o curador

Alexandre Bispo é um antropólogo, crítico de artes visuais e curador de São Paulo. Ele pesquisa práticas de memória, fotografia amadora, fotografia de família, cultura visual e arquivos pessoais. Ele também se dedica às artes visuais, com foco em poéticas afro-brasileiras, e à antropologia urbana, com ênfase na história e memória de São Paulo. Ele atuou como curador em diversas exposições, como "Margens de 22: Presenças Populares", "Sesc Bertioga: 70 anos à Beira Mar", "Em três tempos: viagem, memória e água", "Medo, fascínio e repressão na Missão de Pesquisas Folclóricas – 1938-2015", entre outras. Ele também foi curador educativo em exposições como "Ounjé: Alimento dos orixás", "Corpo a Corpo: a disputa das imagens da fotografia à transmissão ao vivo", "Bienal Naïfs do Brasil" e "Todo Poder ao povo: Emory Douglas e os Panteras Negras". Alexandre é membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte ABCA, pesquisador do Coletivo ASA – Artes, Saberes, Antropologia e do Núcleo de Estudos Afro brasileiros da UFSB. Ele também é co-autor de diversos livros e tem textos publicados em revistas renomadas.

Serviço

Exposição “A Linha dá o Ponto, a Linha dá o Caminho”, de Aline Bispo

Abertura realizada em 23/11

Local: MACRS - Galeria Sotero Cosme, 6º andar da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736 - Centro Histórico - Porto Alegre)
Visitação: de 24 de novembro de 2023 a 03 de março de 2024. De terça-feira a domingo, das 10h às 19h

*Entrada gratuita