LA_LA LAND. Impressões de um amante da costa oeste

O avião aterrissou e felicidade encheu o ar. Essa era a minha primeira viagem a Los Angeles, um lugar que existia nos meus sonhos e estava prestes a se tornar realidade. O ritmo rápido das rodovias, as palmeiras - por todos os lados, igual aos filmes. Minhas primeiras experiências por lá foram divertidas, mas abaixo das expectativas. O tempo excessivo no trânsito me incomodou. Eu sou o tipo de pessoa que gosta de contato humano, então estar em um lugar onde as pessoas utilizam as calçadas apenas para ir dos seus carros para uma loja ou restaurante, e vice-versa, foi um pouco chocante. Não somente, mas onde estariam todas as celebridades que supostamente vivem aqui? Se as pessoas estão constantemente em seus carros, ninguém se vê.

Minha amiga, que é casada com um paparazzo, sugeriu que ele me levasse em um tour pelas casas das celebridades. “Vai lá” ela disse, “vai ser como um daqueles tours de ônibus que você paga uma fortuna para ir num grupo, só que particular!” Então lá fomos nós; e eu pude ver muro depois de muro depois de portão depois de porta e ainda assim, nada das tais celebridades. E nada de casa nenhuma também. Foi um processo broxante, para usar bom português. Meus sonhos estavam derretendo. Mesmo uma perseguição do tal paparazzo atrás do ator James Marsden pareceu monótona. Onde estaria a Julia Roberts quando precisamos dela?

E aí tem o caso da vida noturna, ou melhor, a falta de vida noturna. Um lugar onde as boates são obrigadas a fechar às duas da madrugada? Me parece excessivo, mas é verdade. Eu simplesmente não estava satisfeito. Tudo bem que durante o dia os parques, as montanhas, as praias - tudo isso era maravilhoso, mesmo. A qualidade de vida, eu imaginei, topo de linha, se você não levar em consideração a massa cinza de poluição que cobre a cidade constantemente, lógico. Mas tudo bem, não existe poluição por todo o planeta de qualquer forma?

Eu não desisti, estava convencido de que aquela Los Angeles mágica que aparece nos filmes, com todo seu glamour barato e festas black-tie recheadas de celebridades fingindo se divertir deveria existir. Esse era o lugar que eu estava procurando, um lugar de conto de fadas.

No ano seguinte fui convidado para uma festa do Oscar, provavelmente o convite mais disputado da temporada. Esse era um evento privado, na casa de um ícone pop, onde a imprensa não era permitida (ou sequer câmeras fotográficas e celulares) e a lista de convidados era apertada. Apenas 200 dos mais poderosos atores e atrizes haviam sido convidados, junto com alguns dos principais empresários e produtores de Hollywood e outros célebres artistas. Eu não podia acreditar que eu estava dentro, era uma honra imensa. Eu senti como se a minha oportunidade havia finalmente chegado, experimentar LA no seu melhor, na noite mais importante do ano (para eles) - a noite do Oscar.

A cidade borbulhava, ao longo da Sunset Boulevard e onde quer que uma das festas-chave da noite estivesse acontecendo, o tráfego era intenso. Nada importava, porque a festa que eu iria somente começaria depois que todas as outras terminassem, depois que as celebridades tivessem seus retratos feitos para a posteridade nas festas de Elton John ou da Vanity Fair; essa era a festa onde eles viriam para soltar a cabeleira e se divertir até o sol nascer (ou quase).

Diversão ocorreu. A Oprah Winfrey me puxou pelo braço em um giro, provavelmente achando que eu era outra pessoa, e rapidamente mudou o foco de sua atenção para Tom Cruise. Sharon Stone, provavelmente a criatura mais magnífica que eu já avistei, parecia entediada até Puff Daddy tomar o controle das pick-ups do DJ. Em uma tentativa de socializar, fui filar um cigarro da Penélope Cruz, que nessa altura estava com seu vestido rasgado aos pedaços de tanto dançar. Mais da metade das mulheres desfilavam de pés descalços sem nenhuma preocupação no mundo. Estávamos todos suados e estávamos todos tendo a melhor noite das nossas vidas; inclusive o Oscar, que desfilava de um lado para o outro nas mãos dos mais diversos vencedores da noite. Um laço temporário foi criado entre mim e Renée Zellweger, que ficava tentando dar em cima do meu amigo - mas sem sorte, afinal ele estava noivo de uma mulher igualmente linda. Mas isso não seria um problema, Renée e eu ainda tínhamos a pista de dança. A fila do banheiro foi dispersada pela governanta, que nos alertou sobre um entupimento. Então é verdade, celebridades são como todos nós, inclusive entopem privadas do mesmo jeito.

A sequência dessa noite brilhante foi um brunch no dia seguinte na icônica loja Fred Segal. A loja tem um disputado restaurante no seu térreo, onde eu e meus amigos iríamos relembrar as histórias da noite anterior, entre muitas risadas e um prato de macarrão ao pesto, que é tão cremoso e aromático que dá vontade de entrar dentro do prato. Sentada ao meu lado, na calçada, esperando por uma mesa como qualquer outra pessoa, estava a J. Lo com a sua ‘best friend’ Leah Remini. E ali estava o momento que eu vinha esperando por todo esse tempo, a LA dos meus sonhos havia se concretizado, uma celebridade em seu habitat natural.

Eu não parei de visitar LA desde então, duas ou três vezes por ano no mínimo, e eu continuo me apaixonando cada vez mais. Ao longo do tempo eu aprendi a amar as manhãs acordando cedo para caminhar pelas colinas de Hollywood, em torno do icônico Hollywood Sign até chegar ao Griffith Observatory, que tem vistas deslumbrantes e um programa recheado de atrações interessantes. Às vezes, se estou me sentindo empolgado, pego o carro e dirijo até o Runyon Canyon, provavelmente uma das caminhadas mais populares da cidade. Lá, o encontro ocasional com celebridades é inevitável, o meu predileto sendo com a comediante Kathy Griffin, que caminha com seus cachorros por ali com frequência.

Com o tempo eu aprendi a ultrapassar o meu ressentimento do trânsito. Agora eu percorro a cidade de um lado para o outro em meus carros alugados. Foi em Los Angeles que eu tive minha primeira colisão, não em Nova York, lugar famoso pelo trânsito horroroso e motoristas imprudentes. Ao estacionar meu carro em frente ao Laurel’s Hardware, onde eu iria para um brunch, um ônibus passou e levou metade do meu carro com ele. Lógico que com a sorte que eu tenho e ali sendo West Hollywood (e um dos restaurantes de brunch mais badalados do momento), Kim Kardashian e Kanye West chegaram bem no momento em que eu estava dando meu depoimento para a polícia, seguidos por uma horda de paparazzi. Uma batida de carro muito célebre, de fato!

À noite, um jantar na SohoHouse é sempre uma boa pedida, entre rostos conhecidos como Al Pacino ou Madeleine Stowe, seguido por drinques no histórico ChateauMarmont. Esse local, escolhido por Sofia Coppola para ser locação em seu filme Somewhere e também onde diversas festas fabulosas acontecem, como a noite onde os gliteratti se reuniram em torno da piscina para celebrar a última coleção do mestre designer Valentino à frente de sua marca. E por falar em festas, foi no LACMA - Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles que a Rodarte festejou seu evento pré-Oscar com uma exibição de arte há alguns anos. Não que este seja o motivo para visitar o museu, pois esse é definitivamente um lugar para ser visto. Seu acervo é impressionante e suas acomodações deslumbrantes, bem como o Walt Disney Concert Hall, projetado por Frank Gehry em traços de tirar o fôlego. Falando em arquitetura vi uma linda instalação do Ball-Nogues Studio, o escritório de Benjamin Ball e Gastón Nogues. Um é americano, outro, argentino, e se dedicam a prática do design e sua fabricação, criando ambientes experimentais para potencializar a interação social através da sensação, do espetáculo e do engajamento da arquitetura de forma inortodoxa, surpreendente. Como endereço da arte, vale também apontar a Prism Gallery. Essa galeria de arte, dos reverenciados irmãos Valmorbida, é um dos pontos de arte mais comentados do país, continuamente lançando novos talentos nos mais altos escalões do mundo da arte. Logo ao lado está o restaurante Eveleigh, um dos pontos em LA que facilmente reúne a galera da moda e onde top models como Carolyn Murphy, Irina Shayk e Gisele Bundchen podem ser vistas ao lado de gente como o fotógrafo Mario Testino, a editora de moda Carine Roitfeld ou o cantor Adam Levine.

Um dos meus lugares favoritos para jantar no entanto é o já tradicional e low-key restaurante Pace, na Laurel Canyon - não apenas por seu ambiente e comida aconchegantes, mas também pela história que está presente na região. Algumas portas ao lado do restaurante fica a casa que um dia foi o lar de Jim Morrison. Aquela rua, ele costumava chamar de Love Street, que deu nome à sua famosa canção. Da sacada de sua casa, Jim esperava por sua namorada, que caminhava por ali quando voltava do trabalho todos os dias. A loja de conveniências,a alguns passos de distância da casa e do restaurante, era o local onde Jim ia fazer suas compras junto de muitos de seus amigos rock stars. O porão dessa loja serviu como primeiro lar para Mama Cass, da banda Mamas andthe Papas, quando ela chegou sem um centavo no bolso em Los Angeles. O que Morrison e Cass não sabiam é que eles tinham frequentado a mesma escola ao mesmo tempo e nunca haviam se conhecido até um encontro acidental nessa loja. E foi assim que essa loja acabou naquela mesma canção, Love Street, mencionada no verso “o local onde as criaturas se encontram”. Depois desse passeio pelo túnel do tempo, um passeio adicional até a Mulholland Drive é obrigatório. Suas vias tortuosas tomaram a vida de muitos e foram feitas mundialmente famosas pelo filme homônimo de David Lynch. Não deixe de parar em uma de suas curvas para tirar uma foto noturna dessa que é considerada uma das vistas mais marcantes da cidade dos anjos.

Mas a Mulholland não e a única ‘drive’ feita famosa pelo cinema. A Rodeo Drive, de Uma Linda Mulher, se tornou um ícone quando Julia Roberts foi às compras. Na realidade, a Rodeo não passa de mais uma rua com lojas de grifes como qualquer outra em qualquer outra metrópole. Se compras são o foco de sua viagem você não vai se decepcionar, pois o luxo aqui é ilimitado. Não esqueça de fazer uma parada para um café (ou uma taça de champagne) no Regent Beverly Wilshire, onde a linda mulher e Richard Gere viveram durante o filme. Em termos de compras, eu sempre gosto de fazer uma parada na Kitson, em West Hollywood, essa loja multimarca atende a consumidores de todas faixa etárias e tem algumas das marcas mais descoladas do momento.

Essa é uma cidade mágica com infinitas oportunidades para entretenimento. Da calçada da fama, passando pelas 27 milhas de beleza cênica de Malibu até Venice Beach, onde Arnold Schwarzenegger foi eleito Mr. Mundo, e logo ao lado o Pier de Santa Monica com o delicioso funnelcake e seu mundialmente famoso parque de diversões. Dias podem ser gastos descobrindo novas atividades e curiosidades em Los Angeles, e quanto mais eu descubro, mais eu quero voltar. Você vai querer também.