Arquitetura sustentável: um desafio para a construção civil

Atitudes sustentáveis têm sido um desafio para construção civil, arquitetura e design. Reciclar, reformar e reaproveitar está em alta como uma tendência que veio para ficar como uma nova forma de consumo. Não é preciso voltar no tempo, mas sim termos um progresso consciente revendo algumas atitudes nos processos construtivos e na forma de viver que impactam no meio ambiente. Reabilitação e reciclagem do existente, assim como novas tecnologias arquitetônicas, têm seu valor para arquitetura sustentável, pois reduzem resíduos, evitam desperdícios e ensinam a valorizar, mais do que descartar.

ARQUITETURA CENTENÁRIA: SUSTENTABILIDADE PRESERVANDO
A HISTÓRIA

A Estância da Figueira, que foi cenário do filme O Tempo e o Vento, está localizada no interior de Camaquã e carrega em sua arquitetura a história de um período épico do Rio Grande do Sul. Segundo consta nas pesquisas sobre a origem da edificação, foi construída em 1795 pelo cunhado de Bento Gonçalves, Sargento Mor Boaventura Jose Centeno, e serviu de quartel general na Revolução Farroupilha, entre 1835 a 1945. Dona Caetana, irmã de Bento Gonçalves, viveu na casa até o final de sua vida.

De uma arquitetura bastante simples, com porão alto, cobertura de telha de barro com eira e beira, acesso principal hierarquicamente marcado, simetria na sequência de janelas, desprovida de detalhes, elementos marcantes da arquitetura colonial, temos na Estância da Figueira um legitimo exemplar de uma residência colonial carregada de história e simbolismos.

A estância teve diversos proprietários desde sua construção, mas seu resgate arquitetônico e valorização se deram após ser adquirida pelo seu atual proprietário, o cineasta Jayme Monjardim. Conversei com Jayme Monjardim, que me contou detalhes desde que adquiriu a propriedade, há uns 12 anos, bastante desgastada pela ação do tempo e falta de cuidado. Com todo critério, com ações conscientes e cultas, dotadas de técnica e sensibilidade, as intervenções e reciclagens foram feitas orientadas por profissionais do patrimônio histórico.

O madeiramento do telhado e piso da casa, na época em que foi comprada, tinha muito cupim, necessitando tratamento e recuperação antes que se perdesse a estrutura toda de madeira. A planta baixa original segue a mesma, sem nenhuma modificação. Nada foi demolido ou modificado. A casa foi pintada de uma linda cor rosada, escolha orientada pelos arquitetos do patrimônio histórico.
A casa centenária é habitada e muito utilizada por Jayme e sua família, um dos fatores importantes para vitalidade e preservação de uma edificação. Tornar o imóvel ativo, não somente objeto de contemplação, evita a degradação. Adaptações às necessidades da vida atual, tecnicamente conhecidas como reabilitação, foram feitas como reformas de banheiros, porém mantendo sua concepção original, assim como instalações de ar-condicionado, colocados apenas onde necessário, com todas as tubulações e intervenções sempre discretamente posicionadas para não comprometer o visual original.

Alguns poucos móveis internos são originais e conservados. Os demais mobiliários foram adquiridos em antiquários ou encomendados de acordo com o estilo da edificação, mantendo a harmonia e sintonia do local.

Jayme Monjardim, conhecido diretor de o Tempo e o Vento e Casa das Sete Mulheres, criador de cavalo crioulo, é também produtor de vinhos e espumantes aqui no Rio Grande com o rótulo Villa Matarazzo e Maysa, vendidos com exclusividade na Vinho e Arte no Plaza São Rafael. Jayme tem uma relação estreita com nosso Estado, mantendo e cultivando nossas raízes de forma tão poética e sensível.

ARQUITETURA ECOSSISTÊMICA

Já pensou numa casa de alto padrão, sem geração de resíduos e com eficiência energética? Sem extremismos, nem desprezando o sólido “know-how” da forma construtiva tradicional brasileira, concreto e alvenaria, novas tecnologias surgem para oferecer mais opções a nossos projetos.

A startup brasileira SysHaus desenvolveu um método construtivo exclusivo, que constrói casas de alto padrão em 60% de tempo a menos do que em processos tradicionais e sem geração de resíduos.

Foram cinco anos de intensa pesquisa para alcançar um sistema construtivo exclusivo, que aposta em mais industrialização e tecnologia e menos construção. Com a tecnologia da marca, a casa chega ao endereço 95% pronta e graças a esse processo não consome água – abundantemente desperdiçada em obras convencionais.

Não há entulho, não há perdas. Os resíduos e desperdícios tendem a zero, segundo a empresa, e o tempo gasto com a obra é mínimo. Além disso, 100% dos materiais utilizados são recicláveis e há a opção de cobertura verde, que contribui naturalmente para o conforto térmico e acústico, dando-se o máximo respeito à natureza em todos os processos de construção.

Com tantas funcionalidades, a Syshaus também não deixou de lado a questão estética. Para isso, a marca de luxo fechou uma parceria com o Studio Arthur Casas, que assina a primeira linha de casas da empresa.

As práticas sustentáveis no cotidiano se dão também por meio de três itens instalados em todas as casas SysHaus: o mecanismo de captação e reuso de água da chuva; um sistema de biodigestão, que transforma o lixo orgânico em gás, para utilização na lareira e na cozinha, e em adubo para uso no jardim ou horta; e tomadas para veículos elétricos. Além destes itens, também podem ser instalados painéis fotovoltaicos, que, por meio de seu sistema inteligente de monitoramento, utilizam ao máximo a energia solar e geram custo zero na conta.

ARQUITETURA SUSTENTÁVEL NO DIA A DIA

É uma tendência mundial a conscientização ecológica na área da construção civil e, assim, muitas práticas sustentáveis têm sido adotadas por arquitetos mesmo em construções tradicionais.
Vamos ver algumas ideias de construções sustentáveis e acessíveis:

- O uso de cisternas residenciais para coleta da água da chuva reutilizando a água para irrigação de jardins e para lavar calçadas ou veículos.
- Utilização de placas fotovoltaicas em edificações para redução ou substituição do consumo de energia elétrica.
- Captação de energia solar para aquecimento de água nas residências, sistema cada vez mais utilizado no Brasil.
- Utilização de aplicativos para controle de iluminação noturna reduzindo assim os gastos de energia elétrica.
- Utilização de lâmpadas leds que reduzem consumo de energia.
- Jardins e paredes verdes que contribuem para filtragem do ar nas grandes cidades e estimulam a valorização e cuidado com a natureza.
- Utilização de madeira legalizada e de preferência certificada (selo FSC*).
- Hortas caseiras e hortas urbanas, na rua mesmo, acessíveis aos pedestres.
- Coleta seletiva de lixo.
- Consumo consciente de água.

Arquitetura inovando e pensando no futuro.

* O FSC (Forest Stewardship Council – em português, Conselho de Manejo Florestal) é uma organização não governamental e sem fins lucrativos, criada para contribuir com a promoção do manejo cuidadoso e não predatório.